ŦŦ_Pátio Central_ŦŦ

Hime seguiu o shinobi ao lado de Shuuhei, dando espaço para que o ninja que ajudava pudesse fazer o que quer fosse fazer. Quando as flores brotaram do tronco Hime não precisou se aproximar para sentir o odor. Ela teria sentido qualquer cheiro diferente como aquele a uma distância muito maior. Hime de fato passou a se sentir mais calma, com o seu olfato muito mais apurado do que o de um humano ela passou a se sentir quase sonolenta, seus olhos antes atentos agora sofriam com o esforço que ela fazia para mantê-los abertos. Em pouco tempo se manter sentada se tornara impossível e a cadela se sentou ao lado de Shuuhei ainda olhando para o ninja que continuava a ajudar. Ele parecia falar alguma coisa para ela, e para ele, mas a sonolência a permitia apenas distinguir o tom calmo de avisos, quase conselhos, com o real significado sendo turvados na mente dela.

Shuuhei despertou em cima do tronco, com um homem de máscara em cima dele. No princípio os olhos se arregalaram com a lembrança do que estava acontecendo antes dele perder a consciência.  Mas no instante seguinte percebeu que ele não estava mais em perigo. O homem falava algo, mas a atenção do Inuzuka estava no ambiente ao redor. Alguém o havia tirado de lá. A balsa estava presa por entre galhos, um jutsu, aquilo certamente teria resolvido tudo com muito mais facilidade. Quem teria feito aquilo? Aquele homem? Ele parecia estar tentando ajudar. Ao olhar novamente para o lado viu que Hime estava deitada ao lado, ela parecia cansada. Foi ai que Shuuhei também percebeu que se sentia cansado. Um cansaço físico e mental, mas estava calmo. Havia um cheiro no ar. Eram as flores naquele tronco. Deviam ser algum tipo de calmante. Senjutsu? Uma forte fisgada de dor em todos os seus músculos fez com que a mente dele desse mais um salto a tempo de ouvir o homem terminar o que estava falando. Algo sobre não jogar fora a vida dele. Shuuhei sorriu novamente. Aquele sorriso que acompanhava o seu rosto quase o tempo todo em quase qualquer situação.

Sentiu o estranho deixar uma nota de papel em cima de seu peito e olhou de novo quando aquele shinobi falou alguma coisa para Hime. Pensou na estranha calma que sentia e percebeu que ela estava provavelmente sendo muito mais afetada do que ele por aquele cheiro. Shuuhei tentou se mover mais uma vez, mas novamente aquela pontada de dor em seus músculos o impedira e ele finalmente relaxou.

-É... acho que eu vou ter que ficar mais um tempo por aqui Hime, não vai ter ninguém muito disposto a me carregar pra fora daqui depois de tudo e eu estava mesmo precisando de um... – Shuuhei olhou para o lado e viu que Hime tinha finalmente dormido e não ouvia mais nada do que ele estava dizendo. -...bronzeado.

Shuuhei ergueu seus olhos ligeiramente sonolentos para a menina que havia parado acima dele, tapando sol. Demorou para que suas pupilas se acostumassem com a recente ausência de luz. Quando finalmente conseguiu enxerga-la viu o rosto de Haruko escondido pelas sombras.
Shuuhei deu um sorriso despreocupado para ela, mas ainda não conseguia se mexer. Parte pelo estado de relaxamento e parte pela dor que o atingia sempre que tentava.

- Oi Haru... Haruko? Você saiu da Pensão?! Quer dizer... sim... tá tudo bem... eu acho que me esforcei demais tentando ajudar a salvar o carregamento de madeira. Quando eu acordei, eu estava aqui, em cima dessa cama improvisada, Hime estava ai do lado dormindo e cada centímetro de músculo do meu corpo parecia ser atingido por um raio sempre que eu tento me mexer.... mas e com você? Tudo bem? é a primeira vez que te vejo fora lá da pensão...

Shuuhei começou a tentar responder, mas a mocinha já estava caminhando para longe em busca de ajuda. Naqueles instantes entre o afastamento dela e o retorno com um rapaz para ajudar a leva-lo o gennin teve chance para pensar no que havia acabado de dizer: ele nunca havia visto ela fora da pensão. A desenvoltura da menina era fora do comum. Ela era uma recepcionista, mas a forma inocente como agia e a forma aleatória como ela havia surgido ao seu lado talvez indicassem que havia mais sobre aquela garota. Infelizmente as dores que percorriam o seu corpo não lhe permitiram elaborar pensamentos mais profundos sobre o caso. Ela o estava ajudando e no momento pouco mais importava.

Assim que o rapaz o levantou e começou a afastá-lo da cama de folhas e flores onde estava a dor em seu corpo começou a aumentar. O efeito analgésico das flores ficava para trás, mas ele ainda se permitiu sorrir ao ouvir ser chamado de “meio demônio”.

- Deixa a Hime ouvir essa.... Hime? Hime?! Mocinha... você pode me ajudar a trazer a Hime? Ela é bem mais leve do que parece... e também está dormindo... ela vai ficar desesperada se acordar sem saber onde eu estou... eu ficaria se acordasse sem saber onde ela está... por favor...

Shuuhei frequentemente exibia seu sorriso que fazia com que fosse difícil saber se ele falava sério ou não, mas daquela vez, mesmo em meio a dor que sentia, não poderia haver mais sinceridade em sua voz.

Shuuhei fazia o que podia para se manter imóvel enquanto era carregado, mas o próprio movimento de andar faia com que não se mover fosse impossível. Ele havia escutado tudo que tinham dito sobre ele e não se importava. Aquele carregamento de madeira nem era responsabilidade dele. Depois que Baiken tinha ido embora todos começaram a gritar ordens e comandos para todos os lados. A cadeia de comando tinha sido completamente destruída pela ausência da kage. A opção era simples, fazer ou não fazer. Se não fizesse o culpariam de não ter feito nada, e como fez, agora o culpam por pessoas indo ao hospital. Ninguém nunca sabe o que quer.

Seus pensamentos foram cortados quando a menina expos o seu receio sobre levar Hime. Não precisava ser um ninja para ver que ela tinha seus receios. Não poderia ser falta de vontade. Por experiência própria as pessoas se solidarizavam muito mais com Hime, por ser um animal, do que com ele. Então ela só poderia estar com medo. Não pode conter o sorriso, a maioria das pessoas tratava ela como um animal indefeso, ter medo era a reação mais sensata que já tinha visto alguém ter com relação à Hime. O que é claro, ele não poderia contar para Haruko, se quisesse que a menina trouxesse sua amiga.

- Não se preocupe. Ela não teria nenhuma razão para te atacar. Ela vai se debater um pouco por causa do susto e vai tentar se soltar, mas se acontecer, vai ser só isso. Pode não parecer, mas ela é a inteligente da equipe...

Como o rapaz não falou mais nada Shuuhei também não se pronunciou. Na posição em que era carregado ele não conseguia olhar para trás para ver se Hime estava perto ou não, mas conseguia sentir pelo cheiro que a menina tinha se afastado no meio do caminho. A demora provavelmente acontecia pelo medo que a garota sentia e ele se perguntava se talvez não devesse ter parado de insistir quando viu que a menina sentia tanto medo.

- Pode me deixar ali no sofá mesmo... a Haruko vai me arrumar um quarto quando ela chegar. – Ele esperou que o rapaz o deixasse onde tinha pedido, ou em qualquer outro lugar caso quisesse se livrar logo de carregar um ninja semidesmaiado, e o agradeceu. – Valeu cara, mais um pouco e o meu bronzeado ia passar do ponto.

Ele agradeceu com o seu estranho sorriso de volta no rosto, mesmo com o corpo ainda latejando de dor.

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Hime abriu os olhos lentamente e demorou alguns instantes antes de conseguir sentir o que acontecia. Sentiu que estava sendo carregada, pelo menos não conseguia mais sentir o chão e como não podia voar, devia estar sendo carregada. Aos poucos seus olhos foram conseguindo observar as formas a sua frente, o chão se mexia lentamente, ela estava andando, não, definitivamente estava sendo carregada, mas por quem? Tentou observar mais alguma coisa com sua ainda limitada visão, procurou por Shuuhei. Shuuhei! Onde ele estava? Nesse momento os músculos da cadela se mexeram um pouco e no instante seguinte ela se sentiu caindo no chão. Não estava muito alta, e depois de algumas lutas aquilo nem de longe era algo que a machucasse, muito.

Ela balançou a cabeça para tentar se recuperar enquanto as patas tremiam para coloca-la de pé. Shuuhe! Lembrou-se novamente. Onde ele estava? Dessa vez ela conseguiu olhar para os lados, sua visão ainda estava embaçada, mas se ele estivesse ali, ela teria visto. Ergueu o focinho e tentou farejar o cheiro do amigo, mas o aroma das flores ainda estava no ar e seu olfato estava completamente dormente, não conseguia sentir nem o próprio cheiro ali. Ela então se virou vendo a menina que a observava. Hime a reconheceu, era a menina que trabalhava na pensão. A cadela deu um passo cambaleante para frente e soltou um latido fraco, quase esganiçado. Um pouco menos e ela teria achado que estava mais próxima de tossir como uma cadela velha do que de latir. Deu mais um passo cambaleante na direção da menina e caiu de novo. Se sentia sonolenta e cansada. As flores tinham um efeito muito mais forte nela do que em Shuuhei. Tentou dar mais um latido, mas este foi abafado pela sua mandíbula que mal tinha se aberto para que o som saísse. Ela tentava perguntar onde estava Shuuhei e o que tinha acontecido, mas também estava sonolenta demais para se lembrar que nem todos a entendiam como ele e então dormiu novamente.