ŦŦ_Pátio Central_ŦŦ

- [...] É bom ver que esta nação ainda está de pé... - Uma voz gentil e educada soou com mansidão, chamando a atenção de quem ouvia para um homem de vestes longas que cobriam os braços em grandes detalhes de seda e fios dourados, emaranhados em arabescos que lembravam máscaras de guerra. Seu cabelo era escuro e fino; escorria sobre um kimono impecável que trazia também em si detalhes vermelhos como sangue. Em passos cautelosos, despidos além de sandálias de madeira, caminhava numa direção que  o conduzia à Kage. Sob  a sombra de  um chapéu de palha, sua face manifestava um sorriso sutil e firme. O som da sua chegada se resumia a murmurios e contato de seus pés contra  o chão. Enfim, parou. Uma de suas destras ergueu o chapéu, revelando a face branca de um homem que era dotado de um olhar atento e profundo, vasculhando toda a região como se conhecesse de longa data.

- Porque está... - Seu olhar, dessa vez, se focou nos trajes da Kage - (...) Suja de sangue? - Reparou também no que ela lia, mas não deu muita importância. Reparou em muitas coisas ao mesmo tempo. Nas reformas e no movimento, principalmente em algo incomum como aquele vermelho borrado nas vestes de Baiken. Com certeza, não era  o sangue daquela mulher - pelo menos era nisso que Sagara acreditava.  

Sagara acompanhava Baiken em certa distância, reparando no movimento da cidade e nos inúmeros olhares que  o encaravam desde sua chagada a vila. Havia destruição e, mesmo estando aos reparos, Sagara não poderia deixar de sanar sua curiosidade - (...) O que houve aqui? - Sussurrou notando o caminho que ambos faziam, atravessando todo o perímetro do lugar. A face de Sagara demonstrava um ar de surpresa. Retirou o Chapéu, fazendo com que uma cascata negra escorresse pelas suas costas e, antes que alguém notasse, um homem magro de feições nada amistosas o segurou. Possuía cabelos brancos como  neve e um colete de metal, com algumas ranhuras que lembravam runas. Era um combatente da guarda pessoal do Raikage. Muito se dizia sobre a vila do Raio. Acreditava-se que ninguém mais vivia ali desde que fora dizimada em uma guerra pelos inimigos. " A Nação fantasma", como chamavam a vila do raio.

- Estou sentindo falta de uma pessoa, Baiken-sama... - Dessa vez,  o timbre de sua voz estremeceu - (...) Onde está Miyume? - Seu interesse cresceu com a dúvida. A garota que conhecera antes, que possuia pureza de uma familia a qual detinha linhagem. Seu olhar vasculhava o lugar, procurando descobrir seu paradeiro. - Onde posso encontrá-la? Preciso... Vê-la... - Um sentimentalismo profundo tomou conta de sua garganta, levando-o a pesar os olhos. Em seu árduo treino, conheceu o demônio que reside em seu sangue e apenas a via nos instantes de dor e agonia. A chamava com desespero e tristeza. Sagara não sabia ao certo, mas era a voz de sua alma clamando por sua metade.

Shuuhei veio correndo o mais rápido que podia entre os galhos das árvores de volta ao centro da vila, quando se deparou com Kairu na borda do bosque. Ele pulou de onde estava caindo na frente de Kairu. Hime pulou logo atrás dele, caindo com bem mais leveza que ele. Naquele instante os cortes já estavam praticamente coagulados, mas os machucados ainda eram evidentes no rosto e nos rasgos em suas roupas. Assim que caiu ele voltou a sorrir como sempre fazia, se dirigindo até ela.

-Ei, ela não quis vir. Você estava indo para o bosque? Eu achei que tínhamos que nos reunir agora.

Ele a olhava esperando que mais nada houvesse acontecido e que ele não precisasse voltar por onde veio. Sua respiração estava levemente alterada pela corrida que fizera agora e seu rosto, além de cortado, estava relativamente sujo com a terra e a folhagem do bosque.

Mal havia terminado de falar e viu que a confusão já estava instaurada. Ele não sabia se era por ter ido atrás de Mayli, por não tê-la trago ou por alguma rixa interna entre os dois anterior aos eventos atuais. Além disso, a comoção em torno dos ferimentos de Shuuhei pareciam estar além do necessário. Eram só alguns arranhões. Não eram os primeiros e nem seriam os últimos de sua vida como shinobi. Entretanto a expressão de todos ali revelava que de fato a tensão era bem anterior à chegada de Shuuhei. Tatsuma parecia tentar exercer uma liderança que não era reconhecida por ninguém ali, e Shuuhei se limitou a erguer a sobrancelha ao ouvi-lo falar sobre “ter ignorado as ordens dele”. Ordens? Ele dava as ordens por ali? Ao menos não parecia. O rapaz desacordado na árvore era mais uma incógnita. Todos pareciam mais preocupados com quem foi ou não atrás da Mayli do que com ele, então no mínimo ele não estaria correndo o risco de morrer.

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Shuuhei aguardava uma brecha para poder falar quando a Kage se apresentou na frente deles. Shuuhei se virou para ela, corrigindo sua postura e indo para o lado de Kairu, para manter uma linha mais respeitável de formação. Quando ela fez suas perguntas, o jovem Inuzuka tentou começar a falar, mas Kairu foi mais rápida, falando rápido e com algum sentimento que Shuuhei não sabia se era raiva ou birra. Talvez ambos. Quando ela terminou de falar Shuuhei finalmente teve sua chance, deu um passo à frente e seu rosto voltou a se tornar inexpressivo diante da situação.

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- Eu tentei buscar Mayli, senhora. Ela me atacou e não importasse o que eu dissesse ela não quis voltar. Ela estava bastante transtornada. Destruiu uma árvore apenas com socos e estava jorrando o chakra dela sem qualquer controle. Desse jeito ela não sobreviverá até a noite, isso se algum bandido não encontra-la antes, e sinceramente, do jeito que ela está gastando a energia dela qualquer um poderia senti-la a vários quilômetros de distância. Eu disse que eram ordens suas que ela voltasse, mas ela disse... disse que se a senhora quisesse falar com ela, que fosse pessoalmente atrás dela. Não achei que tentar traze-la a força fosse uma opção, então eu voltei.... senhora.

 Como era bom ver aquele movimento, apesar dos contextos que os conduziam. 

Sagara os observava com cautela, mantendo um semblante amistoso e gentil, como sempre foi. Não ouvia nada, apenas via suas expressões e formas de se dirigir à superior. Seu olhar estava vazio, imerso em uma busca que não conseguia respostas. Onde estaria Miyume? Já havia feito essa pergunta anteriormente e Baiken não lhe dirigiu a devida resposta que esperava. Não iria insistir. 

Flashes do passado traziam os cabelos negros da moça em um movimento sutil numa tarde nublada embalada pela floresta, acompanhado do seu sorriso meigo e... Triste. Em contra ponto, outras cenas de memória interromperam aquelas: Seu pai, o antigo Raikage, momentos antes de morrer pelas mãos do próprio filho. Era quase possível sentir o cheiro de ferro e o calor do sangue dele tingindo sua face: 

(...) Agora, você está pronto... Nunca hesite em matar, ainda que seja seu próprio sangue. A partir de hoje, teus ombros sentirão o peso esmagador da responsabilidade. Não seja fraco... Você não possui mais... Essa... Opção... - As últimas palavras do senhor da vila do Raio o batizaram no último confronto. 

Como um estalo, uma das vozes daqueles que Baiken havia se encontrado o trouxe à realidade. Sagara permaneceu ali, sem conseguir esconder que estava preocupado com uma pessoa, apenas Baiken sabia de quem se tratava. 

- Entendi... - Foi a primeira manifestação do Raikage após saber o que ocorreu à sua amada. Seu comportamento calmo era estranho naquelas circunstâncias - Então quer dizer que a levaram. Vieram aqui e a tomaram de seus cuidados, Bayken... - Notou-se a falta do respeito que costumeiramente adotava em suas referências àquela mulher que tanto admira. A Kage poderia notar que seus olhos estavam diferentes. Um brilho dourado, beirando ao esplendor do fogo, havia tingido a cor de seus olhos, sendo adornado por uma cor escura que lembravam o mais profundo abismo. Alguns diriam, a cor da alma negra.

Estava claro que o Sagara que a kage conhecia não estava ali, exatamente. Era outra coisa, que usava seus sentimentos ruins para incentivá-lo. Alguns dos que acompanhavam o Raikage notaram a mudança e se afastaram, empenhando suas armas que lembravam linguas de serpente. Estavam temerosos e cercaram  o proprio comandante, apontando as armas em sua direção:

- Sagara-sama, contenha-se! - O de cabelo crespo, grosso como um tronco foi o primeiro a se manifestar para seu kage - Esse não é  o senhor. Seja lá o que tenha trazido isso novamente, deixe meu mestre! - Os outros não souberam exatamente se ficariam contra  o parceiro ou se o auxiliavam. Esse meio segundo de indecisão e silêncio foi rompido por uma gargalhada macabra. O timbre de Sagara estava ameaçador, preenchido de desdém e sarcasmo:

- Minha própria guarda me aponta a arma? Você é poderoso assim? Eu não sabia, Hyoke... - Livrando-se do kymono dourado, deixando-o ao chão, Sagara aproximou-se dois passos daquele homem, tocando a ponta da lâmina com lentidão e força. Sorriu ao ver o próprio sangue escorrer pelo dedo e pela extensão da espada do outro, que não sabia exatamente  o que dizer. Seus companheiros se uniram ao colega, cercando o kage enquanto empunhavam as lâminas todas ao mesmo tempo.

- Sagara-sama, viemos aqui com o propósito de aliança e apoio, não permita que sua sombra estregue tudo! - Um deles gritou, chamando a atenção do Raikage.

- Veem, vocês todos? - Dirigiu sua palavra à Baiken e aos demais ninjas que lá estavam - Este é  o tipo de gente que me cerca, que construiu a vila do Raio no cume das montanhas de Prata, vale ressaltar, com sangue... - Um deles  o interrompeu - Isso foi na era que seu pai governava. Sabes disso, demônio. Não coloque palavras vãs para manchar a honra do nosso povo - Tomado pela ira, atacou com a lâmina energizada, atingindo o peito enfaixado de Sagara. Por alguma razão, não mergulhou um mísero centímetro em sua carne. Sagara fitou seu olhar diretamente. O guarda não soube reagir e estremeceu ao ponto de largar a arma no chão, gerando um ruído que perdurou poucos segundos. - Sagara-sama... Acorde... - a voz trêmula do guarda foi silenciada pelo medo que sentiu ao fitar seus olhos. Seus comparsas fitaram a Kage Baiken como uma súplica, um pedido de socorro. Todos eles se afastaram de seu Kage e largaram suas armas  no chão.

- O que houve, não parecem mais tão corajosos. Perderam a força de levantar-se contra seu Kage?! - Sorriu de forma discreta, mas que demonstrava tamanho desprezo pelos seus -  (...) Vocês não são nada... Nada... - Aquelas palavras pareciam ecoar na mente de cada um deles. Fitaram o chão, magoados por aquelas palavras de quem mais admiravam.

- Não dêem atenção... - Um rapaz de aparente 17 anos surgiu entre eles. Suas vestimentas mostrava sua origem como a deles, mas esse era diferente. Possuía uma marca no pescoço que lembrava  um trovão negro. Em mãos, trazia um pergaminho. Sagara  o fitou, manifestando um sorriso que se esticava em apenas uma parte da face.

- Essas palavras jamais viriam de Sagara-sama. Sabem que não será útil ameaçá-lo.É melhor que se contenham - Suas expressões eram firmes e mostravam grande seriedade. Atravessou todo o local até chegar a Baiken, oferecendo o pergaminho:

- Peço perdão por meu mestre - Curvou-se, descansando um dos joelhos sobre o chão - Minha missão foi oferecer-lhe esse pergaminho que dita todos os nossos interesses e ofertas. Ao meu ver, meu mestre já previu que isso poderia acontecer devido a umas noticias que poderia receber em sua chegada. Mais uma vez, peço perdão. - Dessa vez, o jovem se ergueu, ficando de frente para o Raikage, estando ao lado de Baiken -  Seja lá o que tenha dito, espero que possa trazê-lo a si novamente. - Olhou Baiken nos olhos com grande profundidade, dando continuidade - Ele me disse que você o traria.