[Grande Floresta de Ukihara]

*Mayli sentiu suas botas de couro afundarem imediatamente naquela lama, e olhava para baixo por alguns segundos, e em seguida ao redor, sentindo os cheiros e nuanças daquela floresta úmida. Os raios de sol penetravam com alguma dificuldade entre as copas densas da floresta virgem, e uma corrente de vento frio passava no plano deles.
A garota trazia as maos para perto do rosto e respirava pela boca uma vez, soprando bafo sobre as mãos, para observar o que poderia esperar daquele clima e altitude, quando percebia seu então mestre um tanto quanto "cauteloso" ou incomodado com aquela situação. Começava a segui-lo naturalmente sem conseguir deixar de sorrir levemente de canto.

Hikuro, o gavião que vinha em seu ombro, farfalhava suas plumas em um sacolejo, e erguia vôo, se divertindo em manobras curtas entre os galhos grossos daquelas árvores centenárias.*

- É uma bela floresta mestre Hugain. Cheia de vida apesar do clima.
Deve ser muito antiga.

*Limitava-se a seguir o homem loiro enquanto esperava para ouvir quais suas pretensões naquele terreno.*

*Olhando para o chão, a garota seguia ouvindo os comentarios de Hugain.*

-...Nossa. Parece uma lenda um tanto...grandiosa.

*Observando sem perceber parte das roupas luxuosas de seu novo mestre, Mayli ouvia seu questionamento.*

- Sempre ouvi dizer que era um lugar tempestuoso e de difícil acesso...
Não me lembro de conhecer Shinsoras que tivessem estado aqui para ser sincera. Então não posso dizer que sei algo sobre esse lugar além disso, mestre Hugain.

*Mayli não sabia se era apenas seus sentimentos falando alto ou se a aura daquele lugar era mesmo tão sombria...Ela olhava ao redor, percebendo que ficava cada vez mais sufocante se locomover por ali. A umidade do ar e a altitude certamente contribuíam com aquele desconforto.
Vendo que o lugar era pantanoso e cheio de vinhas impregnando entre as árvores, Hikuro voltava a pousar no ombro da garota, prevendo que não era uma boa hora para se arriscar.*

- É impressionante ver um terreno tão pantanoso nesta altitude.
O mundo é realmente surpreendente.

*Respirando fundo, Mayli continuava seguindo Hugain, se concentrando nos cantos de alguns pássaros que superavam a diversidade oculta que sempre imperava nos pântanos.*

*Mayli continuava seguindo o alto homem loiro, tendo muitas vezes que respirar fundo, até que olhava para cima ao ouvir sua voz.*

- Ah?...Pode ser mestre Hugain.

*Observando Hugain se recostar na pedra, Mayli se apressou para seu lado e fez o mesmo, apoiando as mãos no joelho enquanto respirava fundo.*

- Sim é verdade, até que me acostume será assim...

*O que acontece a seguir a assustava bastante e ela quase caia com a explosão que ouvia, tocando Hikuro com as mãos para protegê-lo de algo.*

- ...Aaaaaah!?!

*A garota olhava ao redor com os olhos arregalados, percebendo que as árvores ao redor tinham se quebrado e as rochas tinham sido arrastadas.*

“Mas o que...!?”

-...Nossa...

*Não entendia qual teria sido a necessidade daquele jutsu, mas sentia que com o espaço maior, também corria uma brisa gélida que a fazia tremer, mas não mais do que quando ouvia as palavras de Hugain.*

- Ann...Obrigada mestre Hugain. Eu também irei protege-lo se precis...

*Quando olhava para o homem loiro, o sentia tocando seu rosto e ficava petrificada, sem saber o que fazer, sentindo o rosto esquentar. Por algum motivo era muito incômodo encara-lo diretamente, e a fazia sentir uma estranha e nada familiar timidez. Percebendo, Hikuro mais do que rapidamente grasnava, abria as asas e empurrava a mão de Hugain com o bico afiado, ameaçando bica-lo.
Mayli usava a deixa para se distanciar e quebrar o momento de constrangimento, enquanto afagava seu gavião.*

-...Hi-Hikuro!...
Ah, certo Hugain-san. Vamos sim!

*Mayli voltava a seguir Hugain quando este dava seguimento à trilha, e suspirava discretamente, aliviada. Hikuro por sua vez estreitava os olhos para o homem.*

“...Que ridículo...Por que não falei nada?...O que foi isso afinal??”

*Voltando a prestar atenção na trilha tentando entender o acontecido, a garota percebia uma imensa muralha coberta por vegetação silvestre e a observava com curiosidade.*

- Chegamos?

*Parecia a muralha de uma vila abandonada.*

"Ishida!!" - Uma voz infantil e feminina chamava por Hugain em seu silêncio interno. Das sombras de sua memória, uma jovem de olhos radiantes e sorriso largo corria pelas montanhas junto a algumas cabras em meio a neve, rodopiando enquanto dançava no uivo dos ventos. Seus cabelos eram castanhos e sua pele pálida como prata. Distante dela estava um garoto magro e tímido, que insistia em seguir seus passos otimistas diante de uma atitude um tanto insana - subir a montanha com uma ameaça de tempestade.

" Vem logo! Deixa de ser medroso!! " Novamente a voz ecoava, em pura alegria e desafio. Foi quando um estrondo rugiu no alto do cume, lançando uma grande onda de destruição branca que descia com fúria, engolindo árvores e casas muito rápido. O garoto loiro correu para puxar a garota, mas ela, por algum motivo, o empurrou para um penhasco logo ao lado. A última coisa que pôde ver foi o sorriso agora mudo e seu olhos, antes radiantes, mirando seu rosto uma última vez.
" (...) Shida..."

Tudo ficou em silêncio e o frio esmagador escureceu seu mundo. Ela se foi e ele, não sabe por quanto tempo, ficou ali. Desejando ser encontrado por ela.

---

A dor da bicada da ave de Shinsora o despertou de suas lembranças.

- Desculpe. - Estava sério, mas procurou disfarçar. A grande muralha estava ali, imponente e danificada pelo tempo. Suas rochas eram escorregadias e cheias de musgos e lodo. O frio estava ficando ainda mais intenso. Era possível sentir um sopro congelante de uma das frestas daquela barreira. Hugain se desviou e, em um salto forte, atravessou toda a altura, se agarrando a alguns galhos soltos para seguir uma direção correta.

- Aqui é o marco inicial da Vila. - Disse ajustando os cabelos para as costas. Na muralha havia a imagem macabra de um Dragão branco se degladiando com um tigre. Seus olhos eram grandes gemas brutas de ruby. Por algum motivo, após tantos séculos, ainda estavam ali. Em algumas partes daquele rochedo monumental, havia prata bem trabalhada nas escamas e nas linhas que desciam pelas costas do tigre. Este, por sua vez, no lugar de seus olhos tinha duas fendas profundas, tingidas de negro. Nem Hugain sabia o que era aquilo.

- Bom, após aqui, começa o leito largo do grande rio. Será mais fácil de andar e mais dificil de respirar - era uma subida repleta de rochas e folhagens secas. Um rio limpo e tranquilo descia, banhando e atravessando o grande paredão. O Som das águas que fluíam era algo muito pacificador. Com os antigos diziam, "o rio é um convite a paz".

*Mayli percebia o ar triste de Hugain, e olhava para a muralha enquanto ficava meio pensativa, sem entender o que havia acontecido para que ele ficasse daquela forma.*

“Será que ele ficou chateado? Ah Hikuro...me colocando em maus lençóis logo no inicio do treino..”

*Achava triste que despertasse coisas ruins em qualquer pessoa, mas quando seu próprio caminho não estava florido como ultimamente, talvez fosse razoável. Ou não.
Admirava a muralha com os antigos entalhes suntuosos, como de repente tudo parecia ser naquela vila, e olhava para Hugain lá em cima por alguns segundos.
Virando a cabeça para o lado, dava um beijo no peito de Hikuro, colocando-o para voar, e fazia um selo, saltando para cima da muralha com o auxilio de duas pequenas asas que surgiam em seus tornozelos.
A paisagem do lado de lá da muralha era bem agradável, e lhe arrancava um sorriso gentil por alguns segundos silenciosos.*

- Noossa...Que lindo aqui...

*Olhava de lado para Hugain, com um jeito estranhamente receoso. Como não o conhecia, e nunca vira alguém tão “formal”, ou pelo menos tão “chique”, tinha um pouco de dúvida de como agir, afinal sabia de suas origens rudes e exóticas.*

- Unn...Mestre Hugain. Desculpe por Hikuro. Ele não tinha a intenção “real” de te machucar.

Com um gentil acenar, Hugain sorriu em silêncio e piscou um de seus olhos para Mayli.

- Não se preocupe. O que aconteceu, é que você me lembrou uma pessoa que conheci há muito tempo. - Seus olhos admiravam os de sua aluna com uma grande candura. Hugain sentia a neblina pontilhar seu rosto com frias gotas de chuva fraca. O Som da neblina se intensificava aos poucos, ganhando mais ritmo. Hugain apenas fechou seus olhos e mergulhou em si mesmo, sentindo um prazeroso frio tocar sua face e lembrá-lo de onde estava. Seus cabelos finos e dourados escureciam com a chuva a medida que a absorvia, colando em seu rosto comprido. - Sinta, Mayli... Sinta a chuva tirando de você todas as dores... esse é o convite mais amistoso que podes receber desta terra... - sua voz era mansa. Estava de pé ali, sendo colhido pela chuva fria e simplesmente permanecia naquela postura. A paisagem era de grande calma e o barulho criava uma harmonia triste com o correr do rio.

novamente a imagem da garota surgia.

"Shida..."

A voz era marcante. Mesmo em tanto tempo, nunca a esqueceu. Para ele, ela agora vivia na chuva. E velava por ele.

*Mayli abriu um sorriso para a expressão simpática dele.*

- A-ah sim...Entendi...Espero então que seja algo bom.

*A garota desviava o olhar para o bosque suspirando de leve, e de repente, uma neblina úmida e gélida atingia seu rosto.*

- Unnn..!

*Ela ajustava o capuz quando percebia o jeito de Hugain. Por algum motivo aquilo a fazia abrir um sorriso e admira-lo sem mais todo aquele receio, estava o achando incrivelmente bonito naquele momento. Mas por mais gentil que estivesse tentando ser com seu anfitrião, ela sabia que não seria capaz de alcançar a redenção de seus sentimentos a partir daquele lindo gesto. Olhava para baixo tomada por uma tristeza contida que não abalava seu sorriso, e olhava para ele com sua usual simpatia, buscando não estragar seu momento.*

- Muito linda essa sua conexão com a chuva Mestre Hugain...
Que bom que isso o ajuda...

*Permanecia o admirando apenas, e se desviava para a paisagem sem querer abusar, encolhendo-se um pouco com o frio com o qual não era adaptada para espera-lo.*

*Mayli ouvia o rasgo da movimentação no ar como se fosse algo familiar para ela, e juntamente ao gavião em seu ombro, a garota olhava para os homens ao redor.*

“...Estão fardados rigorosamente iguais...”

*De fato aquela vila parecia ser diferente das demais onde andara, e podia perceber pelo gesto deles para com Hugain, que a hierarquia parecia ter uma rigidez diferente da que ele demonstrava a ela até agora, o que confirmava um pouco seus temores.
Diferente do que talvez pretendessem, Mayli observava os homens que a encaravam com sede sem qualquer incomodo, como se já fosse algo a que estivesse habituada, ou como se simplesmente não se sentisse ameaçada pelos mesmos.*

- Unn...Sou Mayli Shinsora, mas podem me chamar de May, se preferirem.

*Mayli ergueu uma das sobrancelhas estranhando a reação deles ao saber que ela iria ser treinada por Hugain, e abriu um sorriso debochoso, apoiando a mão no quadril.*

“Pff, que estranho. Será que as mulheres não podem ser kunoichis nessa vila? Estranho demais.”

*A garota focou seu novo mestre quando o ouviu provocar os homens insatisfeitos, não vendo glória naquela atitude, e simplesmente esquivou quando ele tentou a tomar pelo braço, saltando junto ao mesmo logo em seguida, fazendo Hikuro levantar voo a segui-los.*

- Tudo bem, Hugain Sensei, vamos lá.
Até mais rapazes, imenso prazer conhece-los.

Hugain viu que mayli o acompanhava enquanto saltava c destreza sobre os galhos. Com certeza seria uma boa discipula.

- Shinsora, vou apresentá-la ao Senhor dessas terras. Talvez já tenha ouvido falar dele na terra de Baiken sama. Afinal, antes de ascender ao posto de Kage, ele ficou por lá durante um bom tempo... e até se afeiçoou a uma jovem mulher. Uma kinimamoto cujo nome não me recordo. - disse enquanto olhava para a garota, esperando ver que reação ela teria dante de tais verdades. - Dizem que o Raikage tem o mesmo sangue dessa garota. Mas nunca o perguntei, e nem pretendo fazer isso sem um bom motivo.

Enquanto se aproximavam das grandes montanhas, podiam ver alguns civis trabalhando numa colheita aos pés das montanhas. A chuva que caia era algo fino e rasteiro, mas junto ao frio do lugar, poderia incomodar bastante quem não era acostumado. Hugain parou no inicio de uma estrada de pedra e madeira. Era bem trabalhada e sua extensão era grande e se bifurcava em varias direção bem adiante. Um velho de barba curta abordou A SHinsora e o Raijin sem muita cordialidade:

- Querem um pedaço de pão? - mostrou um cesto de pães grandes, o que lembraria um pão árabe. O cheiro era bom, mas o chuvisco parecia minar isso pouco a pouco.

*Mayli seguia Hugain percebendo o grau de agilidade que ele empregava no trajeto, concluindo que ele continuava a testa-la. Como ainda não a conhecia, naturalmente seu novo mestre não sabia de suas habilidades e experiências, e provavelmente faria de tudo para descobri-los.
Continuava seguindo-o junto a Hikuro, tendo como único incomodo aquela geada constante que caía queimando a pele de seu rosto enquanto se aproximavam de um imenso volume rochoso, quando o Hikuro emite um pequeno som, chamando a atenção de Mayli.*

“Hm?...Hikuro?”

*A garota olhava momentaneamente para o gavião, que se adiantava um pouco para emparelhar com ela e continuava o trajeto sem falar mais nada. Mayli deixava para lá, achando que tinha tido uma impressão errada, e continuava o trajeto, ouvindo a fala de Hugain enquanto observava as pessoas dali atentamente.*

"Que povo diferente...Não deve ser uma vida fácil."

- Eu conheço Sagara hm...A última vez que nos encontramos ele me tirou do sério...
Essa jovem mulher de quem o senhor fala é minha amiga Miyume Kynimamoto.
É por causa dela que estou aqui mestre Hugain. Vim para ajudar no resgate dela.

*Franzia um pouco o cenho quando ouvia ele comentar sobre a semelhança entre os dois.*

-...Mesmo sangue...
Ele tem ascendência Kynimamoto também, não é mesmo, mestre Hugain?

*Mayli parava logo atrás de Hugain observando cada detalhe ao seu redor, se fixando na estrada rústica. A garota abraçava os próprios braços momentaneamente e depois passava a mão contra o rosto, secando-o, sem saber qual era o mais gelado. *

“...Minha nossa que lugar frio! Brr...”

*Olhando com alguma surpresa para o senhor, a garota abria um sorriso leve, percebendo com muita alegria o que ele a oferecia, batendo palmas e buscando algo em um bolso de dentro da sua capa.*

- Unnn!! Olá senhor! Nossa...Parecem maravilhosos! O senhor poderia ver três desses para mim?
Mestre Hugain? Não quer uns também?

*A comida parecia ter reacendido o animo da garota, e ela olhava para Hugain com um sorriso ansioso enquanto esperava sua resposta.*

- Sim, minha jovem. Sagara tem a mesma ascendente sanguínea... E como ele foi gerado não é uma boa história. E o fim de seu pai, o antigo Raikage, tem uma relação profunda com a veracidade desses fatos. - Relembrou alguns boatos, e preferiu não continuar lembrando dos detalhes. Hugain ficou observando a garota se achegar com o saboroso pão daquele velho andarilho e pensou em também pegar um, mas viu um mensageiro oficial saltar em grande velocidade em sua direção.

" O que será que Sagara-sama está querendo dessa vez?" Hugain pensou ao ver o jounnin se aproximar, já recebendo o pergaminho sem a menor cerimônia. O mensageiro ajoelhou-se e esperou alguma resposta de Hugain. Reparou na sua mais nova discipula, e não pode deixar de reparar na beleza exótica da moça. Nem nas suas curvas.

- Entendi... - Disse Hugain ao garoto após reembrulhar o pergaminho e guardá-lo no bolso. O jounnin esperou alguma resposta , mas recebeu uma dispensa breve. - Eu mesmo vou me comunicar com o Raikage. Obrigado pela mensagem. - Hugain começou a andar um pouco mais depressa, foi quando olhou para Shinsora.

- Parece que um novo Raijin está voltando para casa depois de tanto tempo. Finalmente, não ficarei tão sobrecarregado - sorriu no canto do lábio. Sem pretensão alguma, Hugain recordou 15 anos atrás, momento em que viu o último Raijin de sua época falecer diante de seus olhos após uma perseguição de um país estrangeiro. As armas eram conhecidas e a cor esverdeada de suas lâminas misturava-se ao sangue de Ryu Ougashi, um de seus melhores amigos e alunos. Ter aquele pergaminho avisando do retorno de um mais recente o surpreendeu com tais lembranças.

- Shinsora, eu não quero nunca perdê-la. - ofereceu a mão para a garota, para que segurasse - Te farei forte o suficiente para que resista ao ódio que devasta esse mundo. Mas antes, vou te apresentar o nosso Kage. Apesar de você já conhecê-lo. - sorriu e continuou seu trajeto. A paisagem exótica daquele lugar chegava a assombrar alguns momentos. A floresta densa parecia dançar no ritmo da brisa fria, regada a uma gélida chuva rasteira e constante. Adiante, uma estrada de madeira cobria por cima uma grande parte da floresta, assim como o rio. Algumas flores enormes mostravam suas cores vivas para os pássaros enquanto outras já os devoravam. Ali não parecia um lugar muito amistoso de se observar a natureza.

"...Gerado?..."

*Mayli erguia as sobrancelhas quando ouvia o comentário misterioso de Hugain e revirava os olhos imaginando o que ele buscava dizer, mas voltava sua atenção para a negociação com o senhor e os pães fresquinhos.*

- Muito obrigada oji-san!! Até mais!! Bom dia pro senhor!

*A garota acenava para o idoso parecendo bem contente e desfrutava do aroma do pão que segurava precisamente com as duas mãos, dando uma mordida enquanto observava Hugain e o mensageiro. Não sabia exatamente do que se tratava, mas percebia o quanto seu novo mestre era atarefado e parecia feliz.*

"Unnnn então ele estava cobrindo o trabalho de alguém. Que dureza."

- Unnn que bom Hugain-san!

*Continuava agarrada ao pão parecendo muito feliz saboreando-o, quando ouvia a frase poética do loiro. Permanecia com a mesma cara de satisfação, sobrancelhas erguidas e olhos atentos e pegava a mão dele de uma forma ate bem infantil, já que com a outra segurava um pão delicioso. Não entendia bem o por que daquele gesto, mas aceitou imaginando que poderia ser algum tipo de costume.
Andava junto à Hugain se inclinando para chamar sua atenção e olhar em seus olhos enquanto falava.*

- Ô mestre, comprei dois pães pra você. Não quer comer? Está muito bom. Bem quentinho ♡

*A última parte da frase fazia perceber o quanto a garota ainda não estava aclimatada e como aquela comida simples tinha a deixado feliz por estar quentinha.*

*Um cheiro doce toma conta do arredor de Mayli, o cheiro era inebriante de alguma forma e gostoso de sentir. Mayli parecia não ser afetada pelo efeito que a faria lembrar dos jardins que ela já havia treinado anos atrás ainda em sua vila de origem junto de suas companheiras. Uma voz soa nos ouvidos da garota como se alguém estivesse ao seu lado sussurrando*
- Mayli, não pude receber sua mensagem. Está em perigo? O que aconteceu? Estou com você em sua jornada jovem.

*A jovem Shinsora poderia sentir um calor próximo de seu peito, dentro das roupas que vestia, algo se manifestava ali e se mantinha escondido*
- Jogue-o no solo e estarei ai.

- Opa, quero sim! - Pegou um dos pães e já foi dando uma boa mordida. - pensei em levar um desses para Sagara -sama, mas acho que ele já deve ter lanchado. - Riu um pouco enquanto falou de bocha cheia, caminhando mais alguns passos.

Em instantes, sentiu um cheiro no ar, algo que não parecia ser ruim... Mas que parecia querer envolver seu corpo

' O que é isso?" - pensou, sentindo uma certa dormência querer se espalhar. Rapidamente, manifestou um poudo de chakra de sua natureza elétrica e irradiou por todo seu corpo, obrigando a musculatura a despertar. Com isso, aos poucos o efeito foi passando. Observou Shinsora e nada disse, reparando se aquilo teria algum efeito nela. Preferiu nada dizer, sequer falar daquele aroma.

Não agora.

- Eu vou na frente contactar o Raikage. - fingiu nada ter acontecido - Fique a vontade e explore bastante este lugar, pois ele também tornou-se seu lar. Todos sabem que você é minha mais nova preciosidade. Pelo menos é para saberem. E... se chegarem a enfrentá-la ou desafiá-la, considere isso um pedido de amizade dos nativos. - Disse  um pouco desconcertado, mas era a verdade. - Até logo. E não se perca por aí. - Caminhou devagar e, num piscar de olhos, como efeito de algum tipo de pergaminho, desapareceu.

Após isso, os moradores civis ficaram observando a garota com uma certa curiosidade. Mulheres com pedaços de roupas nos ombros junto a vasos de barro. Homens com grandes machados ficando pedaços de tronco de árvores. Continuaram a fazer suas atividades, mas nunca deixavam de observá-la.

Em menos de 4 minutos, 3 homens grandes, com seus 1,90 de altura, caminharam na direção da shinsora. - Ei, mulher... venha cá. - um deles adiantou-se. Sua voz era grave e seu rosto nada delicado. - Qual seu nome? - outro perguntou, já chegando mais perto enquanto mantinha uma das mãos na bainha da espada.

*Mayli ficou observando Hugain comendo e acabou sorrindo ao ouvir sua risada divertida, mas quando ia segui-lo, alto extremamente familiar chamava sua atenção. Percebia então o efeito daquele cheiro em seu mestre, e seus olhos se arregalavam um pouco ao ouvir a voz sem saber se Hugain também a ouviria, mas por via das dúvidas se mantinha imóvel.*

“Edson!?”

*A garota abaixava o rosto, deixando o rosto escondido, mas aquele sorriso suave tinha simplesmente ido embora, e a mão que segurava o pão o apertava com mais força.*

“...Edson...”

-...

*Lembrava da reação de Hikuro, e tudo começava a fazer sentido, quando de repente, sentia algo entre suas roupas. Olhava para o próprio decote incomodada, e soltando a mão de Hugain afrouxava um pouco a própria blusa e mexia um pouco ali tentando ver o que era.*

“!?”

-...Unnn droga, caiu uma migalha dentro da minha roupa...Odeio quando isso acontece...

*Mayli retirava o que a incomodava colocando discretamente em um bolso interno, enquanto voltava a fechar a roupa, até porque fazia um frio desagradável. Batendo nela como se a limpasse, a garota voltava novamente a atenção aos poucos para seu mestre, ouvindo suas palavras com um olhar surpreso.*

“Preciosidade...? Enfrentar!?”

- ... Enfrentar? Ah! Então, tudo bem mestre! Vou ficar te esperando, ta bom?
Não se preocupe, não vou me perder haha.

*Percebendo que Hugain havia simplesmente sumido, Mayli andava um pouco e suspirava longamente, olhando para Hikuro com as sobrancelhas erguidas.*

- Huunn! Nem para me avisar da mensagem, Hikuro-chan! Ele precisa saber disso...

*O gavião pousado em seu ombro balançava a cabeça em resposta, e ela sorria de leve afagando seu peito, pois sabia que ele tinha agido certo. Guardando os outros pães para mais tarde, a garota pegava o que tinha tirado de seu decote e analisava com estranheza.*

- Como isso veio parar nas minhas roupas!? Hm! ‘Com você nessa jornada’... Tá, sei...

*Voltava a guardar aquilo em um de seus bolsos sem parecer muito feliz, quando percebia três brutamontes se aproximando após um chamado um tanto rude. Mayli parava, os olhando com normalidade enquanto os analisava, percebendo um tom meio ameaçador.*

- Oi?... Mayli Shinsora. Quem são vocês?

- Somos a elite de Raion! - um deles berrou, como se quisesse confirmar no grito aquela inverdade. A sorte é que Hugain alertou dos modos de alguns daqueles habitantes. - Porque uma mulher de outro lugar viria para o fim do mundo? Não tem muito sentido nisso - o segundo comentou, cruzando os braços. - Então desse ver algum tipo de treinamento... - O terceiro interrompeu - Se o mestre Ishida a trouxe, deve ser porque está interessado nessas curvas! HAHAHAHA!!!! - Novamente o segundo falou: - Se Hugain ouve você dizer isso, considere-se morto. Se tiver sorte, essa garota não dirá nada a ele.

Esse que parecia ser o mais sensato se aproximou. Comparado aos outros dois, era o menos alto e menos musculoso. Seus olhos eram da cor do mel quando surpreendido pelo Sol e sua pele era escura como terra molhada. - A observou por alguns segundos e disse sua opinião:

- Ela está aqui para treinar. Antigamente, durante as alianças militares, havia um grande intercâmbio de militares para treinar nas condições quase inóspitas desse lugar. Os que vinham para turismo nunca voltaram. Mas acredito que você saiba disso, não é? - perguntou a garota em um tom sério.

Um dos outros dois tomou a frente, olhando Shinsora do alto da cabeça aos pés - De qualquer forma, ela é apenas uma mulher. E elas só servem para duas coisas: Procriar e Trep...- Em um único golpe, o mais baixo deles atcou o outro, lançando-o a vários metros dali, deixando-o desacordado.

- Desculpe as grosserias desse imbecil. Ele é ignorante. Foi criado penas para lutar e não teve muita ciência sobre as coisas. - Se Mayli observasse bem, aquele homem que golpeou o outro não tinha uma das mãos. - Usou a mão que tinha para cumprimentá-la:

- Me chamo Hiruda. Espero que goste desse nosso lar selvagem. - brincou, sorrindo um pouco enquanto olhou de relance para o outro colega que foi socorrer o outro.

*Mayli se limitava a ficar observando a discussão deles parecendo estranhar, enquanto acariciava a barriga de Hikuro.*

“Elite?? Nossa que povo estranho...”

- Unnn...Eu to aqui pra treinar sim.

*A garota ouvia o que eles falavam sem dar grande importância, mas quando tocavam no assunto do suposto interesse de Hugain nela, ela tocava o queixo com o indicador, lembrando de alguns fatos, desde Tetsu.*

“Interessado em mim? Unnn...Seria isso?”

- Então é por isso que ele vive falando que não quer me perder, ou que eu sou “preciosa”...?
Nossa, pensei que fosse algum tipo de costume de vocês, mas to vendo que vocês são exatamente o oposto desse tipo de atitude...Hugain parece tão....”cortez”.


*Ela se voltava para o homem que falava algo com mais sentido, ouvindo sua análise, e olhava ao redor com um sorriso leve e pouco animado.*

- Isso. Estou aqui pra treinar.
Unnn...você ta falando do clima?...Parece um lugar interessante, apesar de tudo...

*Voltando para o grupo, Mayli estreitava os olhos para o troglodita mais inconveniente e suspirava longamente, enquanto Hikuro eriçava as penas com raiva, observando toda a cena que se seguia, até ele sair voando com um golpe. Dava uma risada abafando com a mão e olhava para Hiruda, sem se importar com sua deficiência ou qualquer outra característica, apertando a mão que ele lhe oferece em cumprimento.*

- Ah obrigada por me poupar de ter que bater nele Hiruda huhuhu
Sim eu vou gostar. Vai me ajudar a atingir objetivos importantes.
Eu vou...andar um pouco, estou esperando mestre Hugain retornar, você quer me acompanhar?

*A garota indicava uma direção e abria um sorriso simpático, esperando a resposta daquele homem.*

- Sim, claro! - Hiruda fez questão de acompanhar a nova pupila de seu mestre, e meio que gostou da ideia. Seus colegas ficaram observando de longe, no chão, enquanto nutriam uma raiva infantil por ele.

- Aqui existe muita história. Você pode perceber que aqui tem muitas ruínas. Cada pedaço de pedra, estátua destruída significa a dor de alguém daqui. - Hiruda não escondeu seu semblante preocupado quando se referia aquela historia. Frente a eles, existia uma ponte de madeira maciça, sustentada por pilares bem espessos de madeira. era uma ponte sobre a floresta e o rio, mas ainda assim algumas ramificações das árvores se entrometiam no caminho. A ventania ficava mais forte aqui acolá, soprando contra o rosto de Shinsora e de Hiruda.

- Aqui é frio, deve ter percebido... - sorriu de lado, parando seu caminhar quando viu uma torre de mármore negro que subia desde o chão da floresta até bem mais alto do que a ponte. Era algo largo e colossal. Seu formato era perfeitamente igual a um obelisco. Em sua estrutura haviam escritos em um dialeto daquela região. Algo que lembrava um tipo de Selo. O centro de todas aquelas runas era a imagem esculpida em baixo relevo de um Tigre, cujos olhos tinham duas safiras e os dentes, de Sabre, era de marfim.

- Aqui é uma das 4 grandes torres. Foram criadas para proteger a vila pelos primeiros kages. Parece que apenas os kages sabem o que significa esse enorme selo escrito, culminando daquela imagem ao centro. Eu gostaria de saber o que é, mas nunca me atrevi a perguntar - riu desconcertado, mas logo passou a caminhar outra vez.

- Como é a sua vila? - Olhou para mayli, com olhos curiosos - Ishida Sensei disse que era uma bela vila e que lá tinha encantos que fizeram até nosso Kage se apaixonar por uma moça.

*Mayli seguia o rapaz com um sorriso estampado no rosto enquanto ouvia suas explicações, percebendo que aquela vila parecia mesmo um cemitério de grandes monumentos, e olhava ao redor absorvendo a paisagem. Achava linda a ponte incrível onde iria passar, mas tentava fechar mais o capuz de sua capa e se encolhia ao sentir o vento frio cortante, olhando de forma incisiva para Hikuro.*

- Vai dar uma passeio vai Hikuro, aproveita o descampado para esticar as asas fofinho!
...Brrr...nem me fale! Aqui é sempre frio assim!?

*Entendendo o recado, o gavião erguia vôo, e eles poderiam vê-lo planando por ali até que se distanciasse.
Percebendo algo em sua visão periférica, a garota olhava para o estranho monumento negro por alguns segundos, parando surpresa enquanto ouvia Hiruda. Não entendia nada do que estava escrito, mas imaginava vagamente para o que poderia servir quando ele menciona proteção. Erguendo as sobrancelhas sem entender o temor do rapaz, Mayli se colocava a andar novamente com um sorriso no rosto.*

“Que negocio alto...Daria um bom salto.”

-...Por quê? Tem medo de perguntar?...
Se quiser eu pergunto e te conto depois Hiruda-san. Sem problemas! Huhu

*Mayli apontava para Hiruda com surpresa, parecendo feliz em conhecer outro pupilo de Hugain.*

- Ah, você também foi treinado pelo Hugain-san?! Que bom saber disso!

*Ouvindo o questionamento inesperado de Hiruda, a garota para por um instante, ainda sorrindo, mas logo continuava a andar enquanto seu olhar demonstrava um tipo de saudosismo misto com uma leve tristeza.*

- Annn...Minha vila? Huhuhu, não...não...Eu estava lá só de passagem, enquanto buscava por Miyume, antes nós estávamos em Semba Tsuru. Miyume é de lá...
Mas se quer saber...Tetsu uma vila aconchegante e pacata... Tem muitas construções lindas de madeira em um estilo antigo... Tem umas montanhas incríveis, um lago muito bonito, uma floresta de arvores altíssimas e compridas... Tem um belo por do sol.
É, até que eu gostava de lá. ^^

"Foram só...muitas coisas ruins para lembrar...”

*Suspirando levemente, a garota se mantinha encolhida enquanto andava, e seu sorriso se amenizava, quase sumindo.*

- ...Sagara se apaixonou pela minha amiga Miyume, mas pelo que eu sei...foi antes de chegarem em Tetsu. Sim, ela é adorável e incrível...

- Sério, você faria essa favor pra mim? - O jovem ficou realmente feliz. Apesar de saber que a chance de Hugain contar algo daquele tipo par a amoça fosse muito mínima. Nunca em sua vida chegou a viajar para outras vilas, mas um dia iria, pelo menos era  o que ele pensava.

- Na verdade, eu iniciei o treinamento. Mas perdi uma parte do braço durante esse tempo e resolvi parar de treinar. Hugain sensei até insistiu para que eu continuasse, mas minha mãe implorou para eu não continuar. Meus dois irmãos morreram durante esse treinamento e ela não suportaria que seu ultimo filho também morresse. Um dia ela entenderá que fizemos nossa parte. E a escolha pelo mestre foi nossa, por conta própria. - recordou de seus irmãos mais velhos enquanto olhou para o braço que, em parte, estava decepado

"Um dia seremos do esquadrão de elite de Raigakure. E tenho fé que você também" - A voz de seu irmão ecoava na sua mente.

- Bom, Acho que chegou a hora de irmos ver  o Kage. - viu um corvo pairando no ar, com um pergaminho preso. Apenas Sagara usava aqueles corvos para enviar pergaminhos. Ou seus assistentes. Em instantes,  o corvo pairou no ombro de Mayli:

" Crá... Crá"

Quando ouviu falar da garota, novamente o jovem se interessou pelo assunto
- Entendo, então essa tal garota deve ser especial mesmo. Dizem que na sala do Raikage existe uma tela de uma mulher muito bonita de pele alva e cabelos negros. Será que é essa? - levou a mão ao queixo quadrado, realmente interessado em tirar aquela dúvida.

- Se você tiver que ir lá, posso acompanhá-la? Diga que sou um guia. Hugain sensei não vai se importar, eu acho.