[Topo do Mundo]

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“Brrr!!!!..Que gelo!! Que lugar é esse?”

*De repente estavam em um lugar muito mais frio e ventilado, e por reflexo a garota estreitava os olhos para se proteger, ajeitando os cabelos longos que dançavam desordenadamente com o vento, e logo em seguida se abraçando em reação ao frio mais intenso.
A garota olhava para Hugain ao seu lado, e ele continuava despido da cintura para cima, enquanto ela já desamarrava o casado em sua cintura, colocando Hikuro para voar para se agasalhar, tremula de frio.*

- Você não vai ficar doente se continuar assim, Hugain?

*Mayli comentava de forma despretensiosa, sem querer parecer que estivesse tentando regras as escolhas de alguém como ele, e se voltava para olha-lo diretamente parecendo momentaneamente preocupada sobre aquilo.*

- Aqui estamos próximos do cume da montanha. Estamos próximos do lugar mais caótico e perigoso dessa nação. O chamamos de " O topo do Mundo" . - a voz de Hugain se misturava ao zumbido do vento, que arrastava seus cabelos e o de Mayli em diversas direções aleatórias. - Nunca ouse voar por aqui, muito menos no cume. Sua ave nem você sobreviveria a um raio desses... ou melhor, ninguém. - os estrondos de trovão eram ensurdecedores, parecia que a montanha estava guerreando com o céu; e as nuvens negras rugiam hora ou outra, manifestando os clarões intensos que reluziam como dia, ferindo as rochas e queimando os troncos despedaçados que insistiam em levantar da terra.

- Não se preocupe comigo. Já estou acostumado com esse clima. E, além do mais, eu tenho um casaco aqui comigo. - rapidamente retirou de um pergaminho um casaco negro, cobrindo as costas e suas feridas antigas. Sua pelagem era grossa e tinha uma beleza rústica.

- Bom... - Hugain sentou-se ali sobre um tronco caído, observando o céu enquanto sentia a neblina se debatendo contra sua pele. Seus olhos mergulhavam no céu, encarando a claridade que devorava o cume da montanha com luz e fogo. Era possível perceber a cor viva de seus olhos e de seus cabelos, que se agitavam sem parar. (...) pergunte o que quiser... sou todo ouvidos para você. - sorriu sem mostrar os dentes, fechando os olhos momentaneamente. Hugain estava diferente. Mais tranquilo, atenciosos e menos agitado. Ali era seu lugar sagrado. A paz em meio ao caos. As feridas expostas da terra o faziam lembrar das suas próprias.

E por isso, por um motivo tão perturbador, nunca esqueceu aquele trecho de pedra.

- O cume...

*Mayli se assustava um pouco com a tempestade, e olhava para o céu surpreendente por algum tempo. Ali nem parecia que era de dia, a atmosfera era leve e violenta, puramente a força da natureza agindo nos céus.
Ouvindo o conselho do loiro, a garota fazia um sinal, e Hikuro, que estava logo acima dela, voltava a pousar em seu ombro, e ela voltava a se encolher e a acompanhar a movimentação de Hugain, observando ele se vestir com um pouco de alívio.*

“ Acostumado!?...Não mesmo...Isso aqui é muito frio...”

- Ótimo...

*Observando o jeito de Hugain, Mayli chegava a imaginar se ele estaria triste por algum motivo, e era pega de surpresa por suas ultimas palavras e sorriso.*

“Perguntar!? Então...”

*A garota se aproximava, se sentando ao lado de Hugain, deixando Hikuro em seu colo. Após pensar algum tempo, ela o olhava ainda com cautela de quem ainda achava que estava se intrometendo.*

-...O que causou aquela cicatriz nas suas costas? Parece que foi algo bem sério...

- Essa cicatriz... - novamente afastou um pouco o casaco, mostrando as costas semi despidas para Mayli. Logo afastou o cabelo e  o colocou por cima do ombro direito. Era possivel ver as cicatrizes e a maior delas, que era bem profunda. A tatuagem do tigre parecia observar Mayli. Como se estivesse realmente viva.

- Eu a ganhei quando essa vila foi invadida a quase 3 séculos atrás. Eu era muito jovem. Todos de minha linhagem estavam mortos e eu era praticamente o último. " Até  o último Ishida cair!!" era  o que alguns dos invasores disseram. Eu me lembro bem. Vi meus familiares decapitados e minha mãe tentava me proteger e esconder, foi quando ela foi capturada e violentada por todos os 6. Onde eu estava, pude ver tudo. Antes ela havia me confiado uma kunai dourada para mim. Talvez para que eu não esquecesse dela... n sei. Mas se existe algo que me doeu mais do que qualquer corte... foi ver seu rosto quando eles me descobriram. Seu olhar de desespero e seu grito ser abafado pelo próprio sangue. Ela havia se entregue para que pudesse distraí-los com seu próprio corpo e satisfazê-los. Ela sabia que nossa familia era muito assediada, principalmente as mulheres. Se você me acha belo, imagine como eram as mulheres...  E... depois disso, eles atravessaram minhas costas com uma foice. Acharam que eu estava morto e me esqueceram na lama, junto do cadáver de minha mãe. Enquanto eu tive consciência, busquei tocá-la. Seu corpo morto no chão, ensanguentado... seus cabelos dourados maculados por sangue e lama. E eu adormeci, desmaiei em tamanha dor.
- terminou suas palavras com a voz um pouco embargada. - as demais cicatrizes foi do meu treinamento mesmo.

“?!”

*Mayli olhava para as costas de Hugain meio desconcertada, mas logo se distraia com a tatuagem vermelha do tigre e a cicatriz profunda. Era realmente uma cicatriz grande, e ela acabava fazendo uma careta leve de dor ao imaginar aquela ferida aberta.
No entanto, tudo mudava quando ele começava a falar. A garota o olhava com os olhos meio assustados e se voltava para frente em silêncio. Seu coração palpitava pelos pensamentos horríveis que assolavam sua mente. Ouvir aquilo a fazia imaginar como teria sido o fim de seus pais...
Cabisbaixa, Mayli enfiava a mão em seu casaco, pegando uma caixa, que mantinha em mãos aguardando que Hugain terminasse sua história.*

“...Foram mortos...Em uma invasão...”

-...Essa kunai?... Você a deixou cair lá perto da caverna Hugain...

*A garota se mantinha cabisbaixa, escondendo seus olhos, reclinada para frente com os cotovelos apoiados nos joelhos enquanto segurava a caixa entre as mãos trêmulas.
Sentia uma angustia muito forte apertar sua garganta de repente, e suspirava longamente, tentando esconder a voz embargada.*

- Nossa...Eu sinto muito...

“Não adianta...Não adianta pensar nisso...”

*Algumas lágrimas despencavam do rosto da garota, e ela apressava sua mão para cobrir seus olhos, se mantendo cabisbaixa.
Além da tristeza dos detalhes, o relato de Hugain parecia te-la lançado sobre a própria realidade, algo que poderia ser confuso para ele.*

-...

- Sim... É essa kunai. - sorriu ao ver que ela realmente o guardara - eu não deixei cair... eu apenas nao tive coragem de dizer que eu queria que você ficasse com ela. - suspirou brevemente, colocando uma das mãos sobre a caixa - (...) quero que fique com ela. É um presente - olhou em seus olhos, percebendo as lágrimas que desbotavam e desciam pelo rosto. Usou a outra mão para aparar a lágrima, que já havia criado um caminho úmido pelo rosto da garota.

- Não precisa chorar... perdão se eu a deixei triste. Não foi essa minha intenção. Sei que são coisas terriveis de se ouvir... mas já é passado. - desviou os olhos novamente para o céu. - (...) deixo esse presente contigo porque, hoje, eu já tenho uma presença que me conforta mais. - apertou um pouco uma das mãos da garota e soltou - (...) Ainda que seja em meio a esse mundo escuro e cheio de dores.

- Você nunca falou de seus pais... você os deixou para vir aqui? - observou-a pelo canto dos olhos - não tem problema se não quiser falar sobre isso. Acredite, eu entendo... - a chuva ficava um pouco mais forte, fazendo pesar os fios de cabelo, escorrendo em linhas finas d'água por todo o rosto. O rugido do céu lembrava uma fera distante que fazia questao de mostrar que estava próxima. O clarão rangia pelo céu, refletindo nos olhos dos dois a pálida luz da tempestade do cume.



Ao longe era possivel ver uma estrada de terra vermelha e rocha. Rapidamente começou a formar poças lamacentas, afogando pequenos arbustos

*Mayli parecia petrificada naquela posição, e continuava a apertar seus olhos com uma das mãos enquanto a outra segurava tremula e fria a caixa da kunai. Ela se limitava a tentar respirar em meio ao choro abafado que queria extinguir seu ar, e parecia ter problemas para conter as lágrimas que amornavam seu rosto em uma trilha.
Na verdade era nítido o quanto a garota estava lutando para parar com aquilo. Se sentia profundamente incomodada por chorar seus problemas na frente dos outros, e era capaz apenas de fazer um sinal meio negativo quando o ouvia falar sobre aquela valiosa kunai ser um presente, ou sobre ele ter causado sua tristeza, enquanto lutava contra a imaginação destrutiva que atormentava sua mente. Sem conseguir reagir ao toque gentil do homem em seu rosto tentando consola-la, o que apenas a deixava ainda mais envergonhada pela situação.*

“Não posso pensar assim... Não tenho por que pensar dessa forma... Não vai mudar o fato...
Que droga...eu que deveria dizer alguma coisa de conforto para ele agora, não o contrario...”

- Não...não...Me desculpe...

*Hugain sentiria a mão da garota um pouco trêmula e fria como um cubo de gelo, mas só assim ela abriria um pouco seus olhos, voltando a fazer um sinal negativo sobre a suposição dele, dela não querer falar sobre seus pais. Após o relato que havia presenciado e a confiança que havia recebido de Hugain, compartilhar um pouco de sua dor seria agora quase uma obrigação. Algo que não gostaria de fazer, mas faria por respeito, afinal, também havia falhado miseravelmente em consola-lo.
Após algum tempo em silencio, ainda cabisbaixa, a garota respirava fundo parecendo buscar ar como buscava forças para parar com aquilo, e abria um leve e gentil sorriso erguendo a cabeça para olhar na direção de Hugain, tentando amenizar as coisas.*

- Eu apenas descobri recentemente que perdi eles em uma invasão distante...Talvez por motivos semelhantes com os que você contou...
Não...Eu...Já faz um bom tempo que eu e meu irmão os deixamos...
...Me desculpe por isso... Seu relato me fez pensar como que tudo teria acontecido com eles de alguma forma... Bobagem minha... Não faz diferença agora...

*Olhando para uma direção qualquer, Mayli secava as lágrimas de seu rosto de uma forma meio apática, e voltava a respirar fundo, parecendo ter conseguido parar de chorar finalmente.
A garota voltava a olhar para Hugain ainda com os olhos marejados, mas agora com mais seriedade olhando para a caixa da kunai dourada, imune ou ignorando o frio causado pela chuva, e afagava levemente seu ombro de uma forma carinhosa.*

-...É uma história muito triste Hugain. Desculpe ter metido meus problemas no meio, não foi a intenção.
Você é muito forte por conviver com isso...Eu não devia ter perguntado sobre algo tão...traumático. Desculpa.
Como posso aceitar ficar com um tesouro tão valioso dessa forma...?

“Como ele pode confiar tanto em mim? Como ele pode confiar algo tão precioso a mim? Logo eu? Que sinto que estou o decepcionando cada vez mais...?
Será que não da mais importância? Será que procura se afastar dessas recordações?...Ele deve ter encontrado alguém para seguir em frente...
Mas como eu poderia retribuir isso??”

*Apesar de tudo a garota o olhava com genuína preocupação sobre aquilo, o que denunciava o quanto buscava ser uma pessoa justa. Não se achava digna de ser a guardiã daquele artefato depois daquela sua "demonstração de fraqueza" vergonhosa.*

Hugain observou com um certo carinho as mãos de Mayli, que sustentavam seu antigo tesouro.

- Sabe, Mayli... cada um de nós somos pequenos universos... - olhou para o céu, tendo a cor de seus olhos radiante quando era surpreendida pela luz do céu, que rugia enfurecido enquanto dançava com a chuva e o vento - (...) e somos dignos sim, de conhecer um pouco do outro. De expandir nosso mundo através das pessoas. Isso cria elos poderosos que nem o mais poderoso jutsu é capaz de romper. E é exatamente isso que eu quero fazer com você - segurou uma das mãos da shinsora, sentindo a umidade que pairava ali por conta da chuva - passei longos anos nutrindo rancor e saudade; e essa kunai... era a única coisa que me impedia de me tornar um assassino e criar outras guerras, onde outros inocentes perderiam o brilho de seus universos... - pressionou um pouco a mão da garota, tomando para si a caixa e revelando a kunai que estava ali.

Antiga, áspera e deteriorada, com a mensagem e o nome de sua mãe gravados em Ouro: Ishida Mayuri.

Sua destra movimentou um pouco a kunai que a ofereceu para Mayli. - Sim, isso me sustentou porque me representava o que eu tinha de mais precioso. O amor... o carinho... minha família. E eu a entrego para você agora porque encontrei um pouco do seu universo. Um pouco das suas dores, que parecem com as minhas, de certa forma. E vejo que existe muito a ser descoberto. Muito pelo que viver e lutar. - sorriu esperando que a garota tomasse para si a kunai.

*As palavras do loiro chamavam a atenção da garota. Ela ficava o observando enquanto refletia sobre o que ele dizia. Nunca antes havia pensado naquele tema sobre aquele ponto de vista.*

“Somos pequenos universos…”

-...Expandir nosso mundo através de outras pessoas…

*Tudo o que Hugain falava parecia meio distante para Mayli, que não tinha costume de buscar elos a ponto de compartilhar sua vida com as pessoas que cruzavam seu caminho.
Dentro dos ensinamentos de sua família, era aconselhável evitar formar fortes elos e compartilhar detalhes da vida, escolher muito bem as pessoas em quem se confiar a tal ponto, sendo esse um papel da família, mas Hugain parecia a fazer pensar sobre aquilo. Seria aquela troca de informações particulares fora do ambiente familiar valiosa de alguma forma? Seria um costume dele? ...Tentaria respeita-lo.
Observava novamente o gesto de Hugain de segurar sua mão com alguma tranquilidade, apesar de não estar sentindo quase nada de tanto frio. As vezes, ele parecia alguém extremamente acolhedor.
O olhava diretamente quando ele lhe oferecia a kunai e sorria levemente, a recebendo respeitosamente.*

-Eu...Não sei como, ou se entendi tudo, mas fico feliz por você Hugain…
Irei guarda-la com muito zelo.

“Não posso aceitar isso sem dar algo em troca…”

*A garota voltava a guardar o antigo artefato na caixa, observando mais uma vez seus detalhes, e após alguns segundos de silêncio, ela voltava a falar.*

-...Mas sendo assim…

*Mayli começava a mexer em sua orelha direita, retirando o brinco de pluma que usava sempre ali. Hikuro, que estava aninhado em seu capuz parecia observar a cena com surpresa.*

-Eu também quero te confiar o meu tesouro mais precioso...Ele não é tão valioso quanto a kunai dourada que me confiou...Mas...Também simboliza o amor, o carinho de minha família…

*Era uma pluma comprida, que era parte castanha, parte pedrês, tinha sua base trabalhada em algum tipo de fio vegetal campestre com algumas sementes vermelhas. A garota observava aquela pluma com muito carinho, e se voltava para Hugain, a estendendo cuidadosamente para ele.*

- Era da águia de meu pai, ele que fez para mim. Eu quero que fique com ele… Sempre esteve comigo desde que os deixei.
Mas agora não faz mais sentido. Eles não pertencem a mim, nem mais a este mundo, mas sempre estarão comigo...de alguma forma.
E eu quero confia-lo a você.
Aceite por favor.

*Mayli tinha o rosto um pouco baixo, como se esperasse respeitosamente que Hugain recebesse seu presente. Tanto pelo tom de sua voz que ainda parecia se recuperar da lembrança de seus pais, quanto pela sua postura, ele poderia perceber a veracidade do valor daquele objeto e daquele gesto.*

Hugain não esperava aquele tipo de presente. Viu a humildade dele e reconheceu seu valor inestimavel. De inicio, reparou no quão bela era aquela pluma. Uma obra da natureza ornamentada pelo carinho de alguém. - Obrigado, levarei comigo sim... - prontamente a pegou e furou a própria orelha no lóbulo. Uma gota de sangue escorreu pela haste do brinco e avermelhou um unico filete da pluma, deixando ainda mais bela, sem querer. Afastou seu cabelo para trás e o prendeu com uma trança atada a fios de couro.

- Como ficou? - sorriu fechando os olhos. Realmente parecia ter gostado do presente. Aos poucos, estava começando a gostar do aspecto rustico e selvagem da vida. De fato, reconhecia que o luxo não era tudo. Em instantes, um grande clarão rompeu do céu escuro e fez estremecer o cume da montanha.

( TSHHHHHHHHHHRAMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM)

- Parece que alguém lá de cima sentiu inveja de mim. HAHAHA - estava estranhamente feliz. Não lembrava a ultima vez que se sentira tão leve e bem. A chuva logo ganhou mais peso e força.

- Vamos mais para o alto? - perguntou oferecendo uma das mãos. - não se preocupe, eu protejo você. Dou minha palavra - sua voz era mansa e seu olhar sincero. Hugain estava sereno como nunca estivera antes. Seus dedos pálidos acumulavam a chuva com facilidade, aguardando a resposta de Mayli.

*Mayli observou os gestos de Hugain um pouco surpresa, e sorriu levemente por vê-lo animado com seu presente tão simples. No fim das contas, ele era mais simples e fácil de agradar do que sua imagem polida fazia parecer.
Após algum tempo o olhando quieta garota, Hikuro beliscava a orelha de Mayli com o olhar estreito como se lhe desse uma bronca, e a garota sorria mostrando os dentes para a pergunta do Raijin e coçava levemente a cabeça, parecendo achar um pouco divertido. Ele realmente era um homem exótico e muito bonito, e tinha ficado ainda mais na sua opinião.*

“Esse desgraçado é muito bonito!”

- Hahahaha! Com todo respeito, acho que é difícil algo não ficar bem em você Hugain-san...

*A garota parecia lidar bem com a breve timidez que a atingia ao falar aquilo, mas antes que pudesse pensar sobre o que estava sentindo, um estrondo muito forte acontecia de repente em um clarão repentino, e a assustava profundamente. A garota se encolhia um pouco gritando de susto cobrindo a cabeça com as mãos como se aquilo fosse a proteger de algo.*

- AAAAAWWAAHHhhhhh!!!

*Mayli erguia os olhos assustados olhando ao redor com o coração aos sopapos e percebia que Hugain parecia ainda mais animado.*

“Como assim!? Qual é a graça!? Eu to morrendo de frio aqui, eu vou congelar desse jeito!”

*Assim como ele, a garota estava completamente ensopada, e ainda tentava se proteger da água que ficava ainda mais forte, quando o observava estender a mão para ela. Para ela era loucura. Como ele poderia estar pedindo aquilo com tanta tranquilidade em meio a uma tempestade daquelas? Que tipo de poder ele teria para domar uma tempestade!?*

“Mas o que diabos ele tem na cabeça!? Com essa tempestade!? Mais alto!?”

- Hugain-san você tá estranhamente feliz pra alguém em uma tempestade dessas!!
Estamos encharcados! E está muito frio! Isso não vai ser perigoso demais!?

*A garota estava visivelmente tremula e gelada, e o olhava bastante preocupada enquanto pegava em sua mão, depositando sua confiança apesar do medo que sentia. Hikuro se mantinha quieto dentro das vestes de Mayli parecendo se poupar de qualquer preocupação ou esforço. Não deixaria Mayli por nada.*

Pela primeira vez, Hugain se sentiu bem com o elogio de alguém - Obrigado, Mayli. Sua opinião me importa bastante. - Segurou sua mão com cautela e carinho - não pense que eu ignorei seus sentimentos ao mudar de assunto, apenas quero mostrá-la que as coisas podem ser melhores - sorriu gentilmente, levantando-se e puxando-a - Faça o que eu disser. Sei que isso parece perigoso, subir montanha acima numa tempestade dessas, mas faça o que eu disser que dará certo. - sua voz forçava um pouco para competir com o estrondo repetitivo dos trovões e relampagos. - Manifeste seu chakra por todo seu corpo, como uma segunda pele. Controle a temperatura que atinge seu corpo!!! - estava correndo, puxando-a pela mão enquanto o clima ficava ainda mais frio e a chuva ainda mais forte - Você consegue!! - disse alto, apesar de não saber se a tempestade a permitiu ouvir. Saltou várias rochas e arvores destruidas.

Em segundos, alguns raios rompiam troncos altos que estavam no percurso, levantando terra e poeira junto a chamas quando os atingiam com um estrondo poderoso. - Não se deixe intimidar!!! e não solte minha mão!!! - Hugain observou a lealdade da ave de Mayli e sorriu. Conhecia um pouco sobre aves e entendia que enfrentar uma tempestade daquelas era uma tarefa muito dificil para uma ave, mesmo que sob a manta de alguém. - lembre-se, nunca invente de voar numa tempestade, Nem de brincadeira. - sorriu animado,dessa vez, acumulando chakra nos pes mais que o normal ao elaborar um salto de grande potencia, dessa vez, largou a mão de Mayli. - (...) a não ser que domine o raio plenamente e saiba domá-lo a seu favor - sorriu, praticamente mergulhando no céu com uma das mãos erguida, reluzida como a mais pura luz.

(TSHHHHHHKRISHHHHHHHH)

Como um chamariz, o punho de Hugain parecia um emaranhado luminoso que acumulava os relampagos que vinham do céu, permitindo que eles chegassem e partissem sem lhe causar dano. Rapidamente Hugain estava no cume de um tronco velho e escuro.

- Está vendo? - Disse para a garota enquanto praticamente brincava com os relampagos. Eles chegavam e partiam sem causar dano a Hugain, vários deles, iluminando seu contorno e sua destra com uma luz ofuscante.

- É isso que eu chamo de domar o raio.- parecia estar acostumado a fazer aquilo. o barulho estridente parecia insuportavelmente agudo - Se você tiver afinidade com o raio, farei de tudo para que possa voar no meio dessa loucura natural e converte-la a seu favor!! - Mayli poderia perceber, de longe, que a tatuagem de Hugain, por algum motivo, parecia reluzir junto aos raios. Na mesma intensidade.

*Mayli o observava pegar sua mão gelada um pouco curiosa e era puxada inesperadamente para perto. Sentia uma certa timidez incomum com a proximidade do loiro. Ele tinha um jeito carinhoso e seu porte em geral bem maior que ela a deixavam um pouco ressabiada, como dificilmente ficava perto de qualquer homem.
Sem conseguir esconder a vergonha pelas primeiras palavras dele, a garota abanava a outra mão, indicando para ele relevar.*

- Oh não, não! Esquece aquilo por favor! Foi um momento de fraqueza...Não queria ter chorado na sua frente.
Ah...ok então! Vamos!

*A garota começava a ser guiada por Hugain e o acompanhava agilmente. A visualização no terreno era difícil, então buscava concentrar seu chakra nos pés para evitar quaisquer escorregos, mas suportar o frio era o grande desafio. Quando ouvia a dica de Hugain, a garota parecia surpresa.*

“Meu...que loucura!...
Uma segunda pele! Nunca pensei nisso!! Então é assim que você faz pra suportar!!”

- Certo!!!

“Como uma segunda pele...como uma armadura...como o Dootori, mas sem plumas...apenas o chakra!”

*O obedecendo, Mayli começava a tentar concentrar seu chakra à flor da pele, e buscava se concentrar apesar da loucura das luzes que atingiam os arredores.*

- AAAA-Aaaahh!!...Ta certo!!!

*Mayli sustentava suas mãos unidas com empenho, e se aproximava mais dele, justo quando ele se soltava e saltava para longe.
A Shinsora o olhava com os olhos arregalados parecendo se preocupar. Estaria tudo perdido?!*

- O que!? Hugain não!!!! Cuidado!!

*O que se seguia era completamente inesperado. Mayli apenas se mantinha observando a cena consternada. O loiro estava praticamente envolto por fortes raios. Algo que jamais havia visto igual.*

“O que é esse cara!? O que é isso?!!?”

- Hugain!?! O que está acontecendo?! O que...!? Domar!?!

*Mayli se abaixava exatamente onde estava, observando a cena boquiaberta enquanto tentava proteger um pouco suas vistas com uma das mãos, sem saber o que dizer.*

- Por que...Por que está reluzindo assim sua pele!?
Como...isso...eu...não faço idéia de como eu...

*Hikuro mantinha-se escondido sem conseguir focalizar bem por causa da claridade da cena que também parecia agressiva aos seus olhos.*

- Está tudo bem!!! - disse risonho enquanto estava ali e logo parava, saltando para próximo deles. Os relampagos continuaram caindo, dessa vez, na terra e em alguns troncos, como antes. O clarão diminuiu aos poucos.

- Não se preocupe, ha muito tempo eu faço isso. Ah, sobre minha pele... é uma kekkei gekai de minha linhagem. - chegou mais perto, despindo o ombro e as costas, mostrando uma parcela das costas onde estava uma imagem incandescente de  um tigre tribal. Sua marca reluzia intensamente - Você sabe  o que é isso? Todo Ishida recebia em um ritual fúnebre  o espírito forte de seu antepassado. Pelo menos é  o que acreditavam. Todo o chákra e conhecimento era passado de geração em geração desde os fundadores do clã. - aos poucos, a imagem diminuia  o brilho - Esse tigre me foi dado por meu pai momentos antes de sua morte, bem no meio daquela guerra; e com isso, seus jutsus e chakra foram selados em mim. Dessa forma,  um Ishida sempre estaria com uma fonte muito forte de poder e conhecimento, era uma forma de nunca se perder nada, mas esse poder é algo que apenas pode ser acessado com experiência e idade... porque junto da vantagem que isso trás, também vem as tristezas e memorias ruins. Alguns optam por nunca acessá-lo, por medo de enlouquecerem. - sorriu enquanto sentou-se ali perto, entrando para baixo de uma pequena gruta.

- Meu irmão mais velho havia recebido sua marca de nosso avô, o patriarca. - disse enquanto parecia observar  o nada. O ruido do lado de fora embalava todas as suas lembranças. - Ele era  o mais poderoso de todos e, como meu irmão seria  o próximo líder, recebeu a bênção mais poderosa, que continha os mais avançados jutsus e mais antigas memórias. - encarou a jovem com uma certa franqueza - (...) imagine o que mil anos de experiencias e jutsus fariam estariam contidos ali. Meu irmão, caso conseguisse acessá-los, seria praticamente invencível. - sussurrou enquanto criou uma fogueira rapidamente ao juntar gravetos e aquece-los com faiscas vigorosas - mas foi essa ideia que  o matou e atraiu ruína para todos nós... - Hugain estava pensativo. Seus cabelos molhados colavam contra sua testa enquanto a pluma que recebera estava unida a seu pescoço úmido.

- Outra pessoa de fora do clã espiou o ritual e ouviu que a marca não poderia ser passada somente para outro Ishida. Lógico que  o grau de compatibilidade era muito menor, mas ainda assim, seria possível outra pessoa receber todo aquele poder... e foi isso que tornou meu irmão a caça maior de nosso últimos dias. - sua voz parecia menos audivel. seu olhar encarava  o vazio assim como suas palavras procuravam fazê-lo.

*A garota ficava apenas observando enquanto ele simplesmente parava o que estava fazendo e vinha lhe mostrar de perto marca reluzente de suas costas. Mayli observava tudo parecendo bastante surpresa. Era quase como se ele fosse de um mundo diferente. Nunca tinha visto ninguém parecido com Hugain, fosse de aparência, fosse de poderes.*

-...Nossa isso...Isso é realmente, muito...diferente e incrível. Eu nunca tinha visto nada igual.
Você está mesmo bem?!

*O seguia com os olhos ainda parecendo cética sobre seu bem estar enquanto ouvia suas explicações e sentia os efeitos da concentração de chakra sobre a pele sendo incrivelmente eficazes contra o frio, como ele falou.
Quando o via entrando em uma gruta, olhava aliviada e começava a segui-lo para dentro. Por mais que o frio estivesse reduzido, estava cansada daquela atmosfera úmida e tempestuosa, e poder descansar um pouco daquilo tudo seria um alívio, pois não estava nem um pouco acostumada.
Ao entrar na gruta, a garota respirava fundo parecendo aliviada, e voltava a observa-lo melhor quando ele acendia uma fogueira com muita facilidade.*

“Que clã fenomenal...Nunca ouvi falar deles antes...”

-...Nossa...Seu clã parece sensacional....Seu irmão....devia ser realmente incrível.
Era seu único irmão?...

*Mayli parecia meio aérea pensando momentaneamente sobre o próprio irmão mais velho, quando percebia o quanto Hugain havia ficado triste novamente ao recordar as coisas de sua família, e respirava fundo massageando a própria nuca como se tivesse cometido algum erro, o olhando um pouco sentida.*

- Unnn, me desculpa! Não precisamos falar disso se não quiser. Eu não deveria ter perguntado.

*A garota dava alguns passos para mais perto da fogueira afim de roubar um pouco do calor e relaxar sua concentração, o olhando de esgueira, e esfregava os próprios braços, percebendo que estava encharcada. Hikuro saia de dentro de seu casaco se sacodindo da pouca água que tinha chegado a umedecer de fato suas plumas naturalmente enceradas.*

“...Droga...
E nem parece dia nesse lugar...”

- Não exagere. Somos... ou melhor, éramos um clã sensacional. Hoje só restou eu e a história... não se preocupe, as vezes eu me sinto bem desabafando essas histórias com você. - sorriu um pouco da forma com que a ave se sacudia. Rapidamente  Hugain colocou um pote de água fresca ali, um pouco em um pote  p a ave e uma garrafa para Mayli.

- Tome  um pouco. Pois vou contar  um pouco mais sobre tudo isso. - sua voz era séria, mas mostrava grande serenidade - (...) bom, após meu irmão receber sua marca, outros clãs inimigos começaram a caçá-lo. Antes seria mais para impedir que ele conseguisse acessar o poder que agora residia nele, mas agora... era para roubá-lo. Ninguém sabia as formas de usar o poder de uma marca plenamente, e seus riscos contribuiam muito para isso - Hugain encarava a luz quente da fogueira como se visualizasse seu passado - naturalmente nossos pais e familiares nos protegiam até sabermos usar a marca, mas... tudo ocorreu no meio da guerra e não houve como ninguém salvá-lo. - Os estalidos das chamas consumindo os pedaços de madeira parecia dialogar com o sussurro do vento frio que invadia  o lugar, procurando sabotar o calor da fogueira.

- Eu pensaria que ele seria capturado, mas... diante do que eu vi... - dessa vez, Hugain estava realmente sério, e  um pouco surpreso, como se realmente revivesse todo aquele momento uma segunda vez. - (...) os corpos de nossos parentes... de nosso pai e de nossa mãe, que havia acabado de morrer de uma forma que vc bem sabe... eles se ergueram. estavam carregados de raiva e...poder. Por  um segundo, imaginei que aquilo fosse  um sonho. Eu estava ainda escondido, observando tudo antes de desmaiar. Mas foi tudo muito real. O cheiro forte de ferro do sangue...  o calor da poeira que a chuva erguia...Vi ali meu irmão diante de todos, e em suas costas, a marca reluzia branca, mas como se pulsasse. Os que deveriam estar mortos estavam de pé e em algum lugar algo reluzia neles na mesma sintonia. Venceram muitos com poderes que nunca tiveram e... a cada pulso de luz que emanava de sua marca, ela diminuia. Ao final, o corpo de meu irmão caiu no chão junto aos outros que haviam se levantado. E ali ficaram para sempre... - voltou a olhar para Mayli com um sorriso mudo.

- Desse dia em diante, resolvi arriscar algumas coisas com minha marca e usufruir de suas vantagens... e riscos. E hoje compreendo como meu irmão fez aquilo e porque aquilo custou sua vida. Mas isso é assunto para outro dia. - levantou-se dali e pisoteou o que restava da fogueira.

- Vamos ver  um pouco de luz do Sol... já chega de trevas por hoje.

*Mayli ouvia o que ele dizia sobre desabafar, sem saber ao certo o que sentia sobre aquilo. Ele realmente parecia confiar nela, de um jeito que a assustava um pouco até.
Observava o gesto de Hugain com um sorriso, e Hikuro parecia aproveitar a cortesia, indo beber um pouco de água que ele oferecia, enquanto ela pegava a garrafa que ele lhe oferecia.*

- Muito obrigada...

*A garota bebia um pouco de água e ficava absorta o observando falar, sentindo de repente um certo medo do relato que fazia seu coração disparar levemente. Expressão que ela disfarçava completamente, olhando para seu gavião por um momento.*

“...Minha nossa...mortos...isso...Não são jutsus proibidos?! Que horror...”

*Mayli voltava a observar o loiro e seu jeito sério e respirava fundo lenta e discretamente, tentando espantar o temor que sentia com aquelas histórias macabras.
Observava seu ultimo sorriso sem saber como reagir à aquela informação. Não sabia bem do que se tratava, se realmente tinha entendido, ou mesmo se era algo errado, mas não caberia a ela julgar. Ele parecia bem e tranquilo, o que era mais impressionante.
Entregava a água para Hugain novamente com um sorriso leve e meio triste.*

“Como depois de tudo isso... Ele conseguiu continuar sendo essa pessoa gentil...?”

-...Parece algo realmente muito sério isso. Que bom que você foi capaz de entender...E de se manter bem até agora.
Eu...realmente sinto muito que tenha visto tudo isso ainda criança. Se para mim é assustador só de ouvir...Não consigo entender como pode lidar com tudo isso sozinho e se tornar esta pessoa.
Você realmente tem muita força sentimental por ter conseguido seguir em frente e chegar onde chegou apesar de tudo isso...
E agora...da pra entender por que todos o tratam com tanto respeito.

*A garota fazia um sinal e Hikuro voltava para seu ombro, enquanto ela recolhia o recipiente de Hugain. Ela o olhava meio de esgueira e dava um sorriso bem largo sobre sua ultima proposta.*

- Vamos, por favor! Sinto falta do sol!

Em um breve salto, Hugain se direciona para as partes mais abaixo da montanha. A queda parecia até então livre. Suas vestes e cabelos de deslocaram rapidamente seguindo a direção oposta ao da gravidade.

- Vamos!

*Surpresa com aquela movimentação, a garota se virava, indo para fora da gruta atrás de Hugain, e para sua surpresa, ele havia simplesmente saltado da montanha.*

- Hugain!?!

“Ele saltou?!”

*Mayli estreitava os olhos por um instante, preocupada. E ao perceber que certamente uma pessoa como aquela jamais colocaria a vida em risco, um sorriso satisfeito surgia em seus lábios.
Hikuro reconhecia aquela expressão, e ambos se colocavam a correr montanha abaixo.*

- Vamos nessa Hikuro-chan!!