♦ Calabouço

*Keiko seguia pelo corredor, buscando um balde de água, uma toalha e um Kimono leve e branco dos mais comuns, e seguia nas escadas até o nível mais baixo do castelo, onde a garota Kynimamoto ficava em cárcere.
Chegando lá, adentrando ao calabouço, Keiko acendia uma tocha no corredor escuro, deixando-a fixa em uma parede de frente para uma das portas de ferro.
Sabia exatamente o que precisava fazer, mas não exatamente por que o fazia, suas mãos tremiam apertadas em punhos enquanto ela encarava a porta com um ódio extremo.
Deixando as coisas momentaneamente no chão, a mulher abria a porta lentamente.*

*Miyume estava adormecida sobre o chão sujo, vestindo trapos imundos que mal a vestiam, e abria lentamente os olhos ao ouvir os barulhos, sem saber bem onde estava e se virava para Keiko com o olhar estreito por causa da luz a qual estava pouco acostumada.*

- É você...?

*A menina balbuciava com aquela voz doce, sentindo a cabeça rodar ao tentar se erguer, pela fraqueza e desnutrição que passava.*

*Percebendo que a jovem estava adormecida, Keiko se aproximava de Miyume silenciosamente com tudo em mãos, sem conseguir, entretanto esconder o nojo e ódio em seus olhos.
Ela se abaixava próximo ao corpo jovem e sujo da Kynimamoto, tentando retirar aquelas vestes imundas dela enquanto ainda dormia. Suas mãos tremiam frias, e seus olhos odiosos queriam derrubar lágrimas, mas seria apenas muito mais degradante caso ela acordasse.
Keiko apenas continuava ali, cuidando da pessoa que havia jurado matar, da linhagem maldita que havia torturado sua irmã até a morte em sua frente. Será que Subaru poderia entender aquela ação? Com o que conhecia de Keiko, será que ele entendia o que estava acontecendo?  
Quando Miyume acordava, Keiko levava um tremendo susto, se erguendo de uma vez, lançando a mão contra Miyume e a acertava no rosto com um tapa, aparentando estar muito nervosa.*

- Não fale comigo!  Sua vadia desgraçada!!!

*Sem entender por que, Miyume era esbofeteada e caia no chão a tempo de olhar para Keiko com um olhar de dor. Sua vista girava e escurecia, e sentia que iria desmaiar, ficando imóvel no chão.*

-...Por...que...?

*A garota sussurrava parecendo agonizar, sentindo as algemas e correntes a limitando completamente.*

-...

*Aproveitando o momento, a mulher se abaixava novamente perto de Miyume e rasgava suas roupas fora, jogando o balde de água fria violentamente sobre ela e o lançando com força em um canto qualquer da pequena sala. Terminava de limpar meramente a garota e tinha que a pegar nos braços para vesti-la. Seu coração palpitava, sua mente ia a mil, e trincava os dentes com tanta força que perigava se ferir. Vestia a garota de qualquer forma, voltando a acorrenta-la novamente, algemando seus punhos e tornozelos, e se erguendo rapidamente ofegante.
Dando as costas, Keiko saía dali rapidamente com uma expressão de horror, batendo a porta violentamente e a trancando atrás de si. Ficando alguns segundos recostada sobre a mesma antes de sair dali e voltar para as escadas.*

*Após a saída da mulher, Miyume apenas se encolhia no chão, sentindo um frio imenso pelo vento que entrava pela fresta da porta, e por estar com a pele e aquela roupa umida enquanto ouvia os passos se distanciarem e a luz se esvair lentamente. Sentindo-se fraca, a garota tremia no chão, torcendo para adormecer novamente, mas a angustia e as lagrimas a impediam.
Algum tempo depois finalmente se acalmava e como em uma sensação morna e reconfortante, sentia o sono vir fechar seus olhos, tempo apenas de tirar um breve cochilo, que fora abruptamente interrompido pelo barulho estrondoso daquela porta se abrindo novamente.
Miyume levava um susto, olhando de relance para a figura que entrava enquanto cobria seu próprio rosto com medo de sua ira, mas a voz masculina a surpreendia, a mantendo paralisada.*

"Não é aquela mulher..."

-...Quem é...?

*Percebendo a aproximação, Miyume sentia seu coração disparar, se movendo enquanto o olhava visivelmente amedrontada, e aquilo parecia lhe dar forças para que se sentasse ali encolhida, a tempo de vê-lo de perto. Tentava se cobrir ao máximo, percebendo que aquele kimono branco molhado mal tinha sido atado e o olhava com um tom suplicante, após ouvir sua voz calma. Algumas lágrimas começavam a escorrer dos olhos da garota e ela o olhava diretamente ainda assim muito acanhada.*

-...Por favor moço...Por favor me ajude...Me tire daqui...

*Sua voz era suave e doce, e ela erguia suas mãos tremulas na direção dele como se buscasse um apoio, mas percebia a fruta que ele lhe estendia, olhando-o novamente com medo e desconfiança. As lágrimas não deixavam de cair de seus olhos cinzas tão dóceis e assustados, quase encobertos pelos seus longos e lisos cabelos negros, enquanto ela permanecia paralisada de medo.*

-...Por que?...

*Miyume parecia paralisada de medo e apenar o observava da mesma forma quando aproximava sua mão de seu rosto, sentindo o coração quase saindo pela boca, enquanto fechava os olhos a chorar. Ela tremia muito, mas tinha algum reflexo quando ele tocava em uma parte avermelhada de sua face que estava dolorida.*

- Ai...

*Ela continuava a olha-lo sem entender aquela calma que ele demonstrava, como se a qualquer instante esperasse por uma agressão, e abaixava os olhos para o prato com as frutas. Sentindo-se envergonhada, a garota se abraçava percebendo pelo comentário dele o quanto tremia, dando um lento aceno positivo parecendo muito triste.*

-...

“O que ele quer? Por que não para de me olhar?”

*Miyume o olhava ainda com aquele jeito amedrontado e choroso enquanto ouvia suas palavras suaves, e tinha espasmos de frio, ainda abraçada a si mesma. Talvez pelo frio ou não, a garota tinha um jeito extremamente tímido e acanhado, mas voltava a olha-lo diretamente por alguns instantes, falando em um tom baixo, aparentando estar confusa e muito triste.*

-...Por que...Eu estou aqui moço?

*A garota olhava para o prato com as uvas e novamente para Subaru, esticando suas mãos algemadas para pegar duas frutas, comendo como ele pedia enquanto o olhava de relance. Estavam muito boas, e ela voltava a olhar para o prato no chão. Faziam muitas horas que tinha comido pela ultima vez, mas sentia mais medo do que fome naquele momento.*

-...

*Com tristeza pela resposta rasa que recebia, Miyume observava ele se levantar, seguindo sua movimentação com receio, até que ele retornava do corredor com uma tocha. A garota sentia seus olhos doerem pela luz intensa e os fechava momentaneamente, mas era extremamente aconchegante o calor da chama, ainda que não cessasse seu frio. Sua expressão continuava triste quando ela voltava a observa-lo, mas ela voltava a esticar a mão até as uvas, as comendo aos poucos após ouvir o conselho dele, até que ela ouvia a pergunta que ele fazia ficando estática.
Por algum motivo Miyume parecia ter receio de responder à questão que ele fazia, mantendo seu olhar baixo.*

-...Acho que...foi na queda...eu bati...

*Miyume voltava a sentir seu coração acelerar. Não queria dedurar aquela mulher, fosse por medo daquele homem ou dela mesma, ou por não se sentir confortável fazendo aquilo por algum motivo. Ela abaixava o olhar por algum instante, e fazia um sinal negativo com um aceno enquanto voltava a olhar nos olhos azuis daquele homem que sorria tão bonito, com a mesma expressão acuada e triste de antes.*

- Não...eu realmente não lembro...
Eu estava dormindo, me assustei...E não sei o que aconteceu...

*Por alguns instantes a garota fazia uma expressão confusa, colocando mais algumas uvas em sua boca, ela parecia degustar o sabor das frutas de algum jeito.*

*Miyume voltava a olha-lo com os olhos cheios de lágrimas. Parecia que a magoava ser chamada de mentirosa, e ela o olhava diretamente com um jeito suplicante.

- Eu não estou mentindo! Eu desmaiei....
Eu não sei por que...

*A jovem suspirava sem conseguir segurar as lágrimas, e voltava a erguer seu rosto ao ouvir as novas provocações dele, levando suas mãos ate a mão dele, segurando-lhe enquanto se inclinava um pouco em sua direção. Sua voz doce soava meio abafada pelo choro silencioso, e ela vontava a encara-lo suplicante com um olhar muito puro e triste.*

- Do que você está falando...? Por favor me diga...por que estou aqui?
O que ela vai fazer comigo? Estou com medo...

*A garota envolvia a mão dele em suas mãos delicadas e ele poderia sentir uma sensação extremamente gentil e acolhedora tomando conta dele. Uma sensação boa e reconfortante, quase como se ela conseguisse acaricia-lo de alguma forma.*

*Miyume o olhava diretamente sentindo seu coração disparar com a inexpressividade de Subaru, e as lágrimas despencavam de seus olhos suplicantes.*

- Minha morte?...Mas o que eu fiz pra ela?!
Eu já conheço vocês!? Fiz algum mal pra vocês?...

“Útil?”

*A garota olhava para o chão imundo parecendo bastante confusa enquanto se lembrava de algo e mordia seus próprios lábios brevemente com tristeza.*

-...Não sei...Não sei se já os conhecia... Não sei se fiz algum mal a vocês no passado...
O que foi que eu fiz?

*Em sua mente vinha uma lembrança clara dos dias mais felizes dos quais se lembrava, quando estava na companhia de um homem de longos cabelos negros que a fazia sentir segurança e uma emoção acolhedora que lhe era estranhamente familiar. Lembrava de uma conversa em particular, onde ele lhe explicava coisas aterrorizantes e inexplicáveis sobre suas origens, e sentia as lagrimas escorrerem por seus olhos.*

“...Meu nome...? Era disso...Era disso Sagara-san...Que tinha tanto medo?”

*Descendo a pequena escadaria, a mulher chegava ao porão olhando para todo o ambiente rapidamente, e se aproximava da grande porta de ferro de onde estava a prisioneira Kynimamoto.
Os olhos azuis claros de Keiko fitavam o vão da porta de forma insistente enquanto batia com o dedo em uma das pernas em um ritmo frenético, segundando o prato com a outra mão. Parecia buscar se concentrar ou se controlar à situação, o que acontecia assim que sua mão voltava a doer. A mulher abria a porta e entrava naquele recinto fétido e úmido, colocando uma tocha de fogo em um suporte na parede próxima à porta, e olhava para Miyume sobre seu ombro com um olhar alarmado e preciso por alguns instantes antes de se voltar para a mesma.*

- Acho bom estar acordada aberração.

*Se aproximando em passos precisos, o ódio e o temor pareciam se misturar em seus olhos bem abertos, e ela parava pouco a diante de Miyume. Sua vontade era largar o prato à sua frente, mas se lembrava que não poderia correr o risco de feri-la, então o esticava para ela e se abaixava. Sua mão estava enfaixada e um pouco tremula, e as ataduras já estavam embebidas em sangue, mas seguia sem perde-la de sua mira, com algum traço de curiosidade e nojo sobre aquele semblante angelical, e um desejo doentio de dar fim àquela sua vida miserável.*

- Pega essa porcaria...PEGA LOGO MALDITA!!!!

*Após a visita angustiante com aquele homem, Miyume fora simplesmente deixada para trás, no frio e no escuro, e se encolhia tremula, abraçando suas pernas e apoiando sua boca contra os próprios joelhos.*

“...É por causa do meu nome!?...É por isso que estou aqui!?
O que foi que eu fiz pra essas pessoas!? Por que... Por que isso está acontecendo comigo!?”

*Tomada pela angústia a garota caia em um choro contínuo e suplicante que ressoava pelo ambiente, se mantendo encolhida enquanto lembrava das palavras daquele homem misterioso.*

“Por que sou útil!? O que querem fazer comigo?! Eu não lembro de nada...Eu não...Sou capaz de tantas coisas assim...! Sou?
Ela quer me matar...Ela quer me ver morta...
Sagara-san...Ah! Sagara-san...Será que...não vai conseguir me ajudar?...Será que nunca mais vamos nos ver? Sagara-san...”

*Por algum motivo sua mente passava a revisar insistentemente as pessoas que havia conhecido desde o dia que tinha “acordado”, e sentia um aperto no peito ao lembrar de todos, e uma dúvida inquietante por dois rostos que vinham em sua memória.*

“ Mayli-chan...Deve estar preocupada...O que deve estar fazendo...?
...Por que...Esses dois...? Eu não os conheço. Eu só os vi...Não...”

*Após algum tempo de pensamentos torturantes e confusos, Miyume começava a se sentir fraca novamente, e por algum motivo que não entendia, o frio parecia não incomodar tanto mais à medida que seus olhos pesavam na sanha de fechar.*

“Estou tão fraca...Estou com tanto...Sono...Eu...Não consigo...Eu poderia...”

*Sem ver sentido em nada do que lembrava ou pelo que estava passando, os piores pensamentos aterrorizavam a mente da garota, antes que ela cochilasse novamente, envolta em uma aura morna que lhe trazia conforto em meio ao frio daquele ambiente.
Novamente seu descanso é interrompido pelo ranger pesado daquela porta, e a garota levava um susto, erguendo seus olhos e apertando seus braços enlaçados nas pernas com força.
Miyume acompanhava aquele olhar azul com profundo temor, e desviava para o chão, voltando a tremer.*

“É aquela mulher...”

- ...Eu...

*A garota se encolhia ainda mais com a aproximação de Keiko e a olhava com muito medo quando se aproximava em meio à aquela luz fraca, percebendo que ela também tremia, e que suas mãos estavam enfaixadas, pouco antes de levar o susto com seu grito rude.*

“As mão... estão enfaixadas...será que?”

*Miyume se desencolhia imediatamente para obedece-la, e pegava o prato, envolvendo a mão dela com sua mão e a olhando nos olhos. Keiko poderia sentir um calor reconfortante percorrer seu corpo e aliviar sua dor no ferimento.*

- ...O que houve com as suas mãos!? Ele que fez isso com você!? Aquele homem!? Você!
Você...?

“Será que ela na verdade...”