ŦŦ_Sala dos Kages_ŦŦ

- Compreendo... Mas, talvez não seja mais tão útil. Não esse animal. Deve haver outro meio mais seguro - frisou, observando a face do Tigre com um desprezo incomum. Novamente, voltou sua atenção à kage, observando seu esforço em prol de Miyume, ou de, puramente, manter-se sob  o próprio controle.

- (...) Na verdade, eu nunca tive problemas em saber onde Miyume estava... - comentou sem ânimo, notando que seu guarda respirava com lentidão, pesaroso e antipático, notando o ambiente do outro lado da janela. - ...Não depois de me tornar o que sou hoje. Há muito tempo, apliquei um selo para amenizar seu chakra negro que vivia instável. Isso foi alguns dias bem depois que a conheci, na floresta. - Recordou aquele momento com precisão, lembrando que aproveitara o sono que ela tivera após terem tido uma noite juntos. O selo estava sobre uma de suas costelas, sob o seio direito.

- Hoje, esse selo é ineficaz para seu real propósito. O poder de Miyume cresceu de forma descontrolada desde aquela época. Mas a marca ainda está lá. Isso seria o suficiente para localizá-la. Mas, considerando que ela foi sequestrada... Há uma possibilidade ruim, nisso tudo - Caminhando até uma parte daquela sala, Sagara aquietou seus passos, observando o lado externo por meio da janela de bamboo. Dessa vez, ficou quieto. Seus braços longos, que escapavam das bordas dobradas do Kymono, eram enfaixados até os dedos.

Por alguns segundos, o silêncio se instaurou na sala dos kages.

- Conhece a história que existe por trás dos portões brancos, Baiken? - Falou o Raijin Sétimo da vila do Raio, referindo-se em termos históricos ao país da tempestade. Onde, em uma época de vários anos, acreditava-se que os ninjas de prata haviam sido extintos pelo país do Gelo em um conflito brutal e veloz. Desde então, a grande vila nunca mais havia sido habitada, senão pelas tempestades que nunca cessaram no cume das colinas. A chegada de Sagara gerou em muitos ninjas uma grande dúvida quanto ao real destino do povo que seu pai cuidou por tanto tempo, em secreto.

A notícia de sua conquista pela maior posição daquela nação chamou a atenção de todos aqueles que um dia a destruíram. Sagara sabia que isso significaria uma guerra futura, bem mais violenta que aquela que seu pai enfrentou. Estar ali representava atrair ameaças aquele lugar. Não gostava de pensar assim, mas era a verdade. Por tal verdade, precisava ir embora o quanto antes.

- Talvez ela saiba mais que você, Hugain. - Sagara comentou. Hugain se surpreendeu com a resposta de seu mestre, sorrindo pelo quanto a Kage daquela vila parecia ser sábia e poderosa.

- Bom, não poderei permanecer aqui por muito tempo... Mas agradeço sua hospitalidade. Vim aqui para me certificar que ela nao está aqui... - Sua voz adquiriu um tom baixo, algo que transpareceu totalmente sua tristeza - Há grande possibilidade desse selo antigo ter sido removido ou deslocado, e tudo o que tenho visto não passar de uma sombra. Ou uma armadilha.

- Você tem razão. Não há  o que temer e, além do mais ... - deslizou o polegar sobre a empunhadura da katana sinistra que carregava sob  o kymono branco e dourado - (...) Somos Kages. Se o inimigo possui um potencial igual ao nosso... No minimo, nos garantirá  um grande divertimento, não? - Riu pra si mesmo. Não parecia, naquele instante, preocupado com absolutamente nada. Diferente do costume, parecia interessado nos desafios. No que poderia enfrentar.

- E quem seria essa pessoa, apta a me acompanhar? Imagino que tenha sua atenção por ser portador ou portadora de grande poder ou facilidade em combate. Bom, não nego que isso me deixou curioso. - Sorriu de forma branda, notando a situação de Baiken.

Reparou no seu cansaço e hesitou em entregá-la alguma coisa, como uma bebida - o ato mostrava que iria se preservar às festividades. Hugain estava com uma garrafa bela e transparente, deixando a mostra  uma bebida dourada escura que, pela marca estampada, parecia ser de bom gosto. Sagara pediu com um olhar para que deixasse para depois, pegando de Kuroi um pergaminho. Com paciência, leu a mensagem, começando a se preocupar com a amiga Kage.

- Você ficará bem. Kuroi não está fazendo nada... - respondeu a pergunta de Baiken, deixando o pergaminho sobre uma mesa de madeira. - Eu acredito em seus olhos... Mas você me conhece, eu preciso ir além de um olhar para minha Miyume... - engoliu em seco, permitindo sem querer que sua voz se tornasse  um pouco pesada - (...) preciso tê-la; e ninguém me impedirá.- retirando sob suas vestes uma faixa branca, repleta de letras distorcidas. Como um açoite, a faixa partiu com violência contra a Kage enrolando-se em seu pescoço, dissolvendo a faixa, preservando apenas as letras como uma tatuagem branca, cintilante.

Hugain viu aquilo com espanto, mas manteve-se quieto. Sabia  o que aconteceria logo depois. O poder daquele selo era o de compartilhamento. No caso, ele tomaria para si grande parte dos sintomas que causavam dor e sofrimento à kage. A cor branca das letras aos poucos tornavam-se negros. Isso era a forma visual de que estava dando certo.

- Desculpe me intrometer, mas não quero esperar muito tempo para ter uma parceira de bebidas - Tomou um dos drinks que Hugain segurava e, preenchendo daquele liquido amadeirado, ofereceu `mulher. Num ato involuntário, arrastou um dos dedos sobre  o chão impregnado de sangue do tigre, mergulhando um deles no próprio copo, contaminando a cor âmbar com um vermelho forte, acrescentando um gosto peculiar de ferro à própria bebida.

- Está se sentindo melhor?

- Como você... - Fitou toda a ação de Kuroi, com uma expressão de surpresa e desdém. Reparou algo além do desgosto que Kuroi nutria por ele. Reparou uma sensação familiar, algo que lembrava seu apreço por Miyume. - (...) É precipitado... Sei que tem grande cuidado por sua Kage, mas acredito que você seja mais útil à ela vivo do que morto. Pense nisso antes de uma ação descuidada como essa... - as palavras saíram como um conselho precioso. Os portais que se abriram permitiram que algo saísse de lá, e, ao vislumbrar toda a cena, Sagara deu um passo para trás, prestando atenção em como tudo aquilo parecia eufórico e divertido. Nunca pensou que um dos protegidos de Baiken tivesse tamanho descuidado, isso fez com que ele sorrisse sem transparecer o que realmente pensava.

Num piscar de olhos, a palma do Raikage alcançou o antebraço de Kuroi como uma luz ofuscante e se afastou em uma velocidade estupenda, permitindo que uma marca similar à que estava em Baiken surgisse rapidamente ali e se espalhasse como fogo sobre pólvora. O efeito permitiria que todas as sensações da Kage fossem divididas com o servo. - Assim, ficará um pouco mais prudente antes de pensar em me dirigir uma ofensiva. Essa será a punição para que pense bem antes de desejar fazê-lo outra vez. Afinal... Dizem que o apreço verdadeiro é aquele que compartilha de tudo com quem defendemos, inclusive a dor. - Originalmente, o selo transporia grande parte da dor da Kage para um pergaminho que estava em posse de Sagara, para que ele pudesse guardar toda a sensação amarga e aplicar em alguém quando desejasse. Nem pensou muito para aplicar aquilo em Kuroi. Sabia que dificilmente ele suportaria as sensações de sua mestre, mas queria saber até onde ele suportaria.

Sob a ordem de Baiken, Kuroi ficou o seu lado. Sagara estava apenas aguardando qual sera a reação do jovem. Observava-o com paciência e prontidão, mantendo um sorriso de puro cinismo na face. Depois de algum tempo, Baiken sai da sala junto ao "servo", permanecendo ali apenas Midori. Não reparou se ela saiu depois.

Aquela ali parecia ser simpática.

- Sim... Preciso me desarmar... - Num lampejo de pensamento, recordou a tentativa de ofensiva de Kuroi e comparou com aquele conselho. Assentiu com a cabeça e se retirou dali devagar, tendo Hugain logo atrás, afundando as mãos no fundo dos bolsos.

- Bom, estarei próximo da região central da vila. Estarei aguardando ansiosamente pelos dois. Ela e Kuroi. Apenas desejo que eles estejam bem... - disse de costas, atravessando o portão do lugar. Hugain encarou tudo aquilo de forma familiar. Não era a primeira vez que Sagara reagia daquela forma com um acontecimento que provavelmente não renderia um único dano a ele. O olhar claro do Raijin encarou Kuroi por cima dos ombros antes de sair do lugar, enxergando Baiken da mesma forma. Desejou sinceras melhoras à Kage, sentindo uma certa pena do que viria a acontecer com o jovem seguidor da kage - tirando pelos fortes sintomas que a mesma poderia estar passando.

Caminhou alguns passos tortos até que, sem querer, se esbarrou contra uma das portas da sala. "merda..." Manter o equilíbrio com um corpo no ombro as vezes não é tão fácil. - resmungou, apoiando Mayli com maior cuidado quando atravessou totalmente o portão, seguindo por um corredor até se deparar com Baiken. Sorriu torto, perguntando a si mesmo se ela o reconheceria. Estava um pouco diferente da última vez que a viu: mais alto e mais magro. O rosto parecia com o anterior, mas era diferente.


- Err... Bom, bom dia. - Sorriu, como se nada realmente tivesse acontecido - Venho aqui para que cure essa jovem gostos - quer dizer, garota. - fez com que o peso do corpo desacordado rolasse pelo chão, ficando próximo à Kage.


- Ela estava na floresta com o Raikage e, não sei porque, ela estava atacando-o. Parecia que era pra matar... Então eu surgi e dei um jeito de arrancá-la dali, antes que fosse tarde. Creio que Sagara não a feriu, pelo menos não fisicamente... - recordou os métodos do Raikage e suspeitou que as emoções da garota estavam moídas. Ele gostava de despedaçar as emoções para enfraquecer a inteligência em combate.


Sentou-se ao lado do corpo, reparando em uma das partes que estava um pouco descoberta, dando para ver uma parte mais "intima" daquele corpo. Ficou ruborizado instantaneamente e tentou desviar os olhos. - Err... Bom, Eu vi que ela tem potencial, e o Raikage também... Peço sua permissão para levá-la nas ruínas da nação do Raio. Quero treiná-la...

- Coisa mais bizarra... - Falou, referindo-se ao que via. Logo ali de perto estava um portal. Era arriscado aceitar o convite, mas aquilo não o intimidaria. Na verdade, desde muitas decadas algo não mais o intimidava.

- Ok, convite aceito! - Falou com ânimo, sorrindo de forma despretensiosa. Caminhou devagar e acompanhou aquela pessoa.

- Tem luz aqui? - comentou olhando o portal por dentro, rindo sem querer.